domingo, 3 de julho de 2016

Avós/Rapazes - Eleição

Avós - S. Gonçalo - Amarante
Anabela Matias de Magalhães

Avós/Rapazes - Eleição

A minha geração ainda associou os seus avós a gente velhota, em alguns casos a gente mesmo velhinha velhinha, como é o caso dos meus avós maternos que, quando faleceram, ambos com setenta e tais anos, era eu ainda uma miúda.
Até aos meus vinte e poucos perdi todos os meus avós, de quem guardo memórias muito presentes, caso dos meus avós paternos, habitantes desta minha rua, mais exactamente da Porta 47 da Rua Teixeira de Vasconcelos e de quem guardo memórias difusas, soltas, caso dos meus avós de Peso da Régua, as mais presentes o cabelo incrivelmente branco do meu avô materno e os seus olhos azuis e luminosos, a pose hirta e firme na silhueta incrivelmente magra e esguia da minha avó materna.
Quanto às memórias dos de cá, de Amarante, bom, os meus neurónios estão cheios delas dada a proximidade que com eles tive... mas também sempre os olhei como velhotes, o meu avô reformado, a minha avó eterna dona de casa que nunca soube o que era trabalhar fora... já agora a da Régua também não.
A mudança já se deu na geração do meu pai. As suas netas não o veem como um velhinho apesar de estar prestes a transpor os oitenta anos e ei-lo a saltaricar com o seu bisneto pelas ruas de Amarante, a dar de comer aos patos e aos peixes, a brincar com ele com puzzles e carrinhos. E as pessoas na rua vão-se enganando chamando-lhe avô... a ele, que é o bisavô do seu bisneto.
E eis que chego à geração dos que, nascidos na década de sessenta, já estão eles próprios transformados em avós, geração da qual faço orgulhosamente parte. E é vê-los activos, prontíssimos para ainda fazerem muitas curvas, a genica ao rubro e sem perderem o ar de rapazes que sempre foi seu apanágio. São, por isso, os avós-rapazes.
Estes dois, que hoje partilho em fotografia de look vintage, são dois desses exemplares de avós que pisam a calçada amarantina orgulhosos da sua condição. Por certo povoarão as memórias dos seus netos por dias que ainda virão e se prolongarão nos anos tais como as memórias dos meus continuam a acompanhar-me, acarinhando-me os dias. Pedida a fotografia e avisados de que iriam ser alvo de uma eleição, colocaram a sua vida... eheheh... salvo seja!... nas minhas mãos... porque eu decidi fazer uma eleição só com um só voto, o meu.
Um deles respondeu-me mesmo "Não sei para quê, mas vindo de ti, aceito sem reservas!"  e o outro, ocupado que anda com tanto trabalho, só me pediu para não lhe dar mais trabalho para a Festa Amarantina! E não darei.
Por isso é assim, rapaziada, vós tereis a honra de saber em primeira mão que isto de avós já não é o que era e que a tradição é agora uma grande batata. E sabeis agora, em primeira mão, e isto fica só entre nós!, que acabam de ser eleitos os avós nascidos nos anos sessenta mais sexys de Amarante e arredores.
E não se fala mais nisto.

E já viram o tempo que eu demorei a chegar aqui?!
Ficam a dever-me este "títalo". Não se esqueçam.

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