domingo, 10 de janeiro de 2016

Ensino por Competências Versus Ensino por Objectivos

Stop... Não? Sim? Não?
Fotografia de Jóia de Luz

Ensino por Objectivos Versus Ensino por Competências

Este post destina-se a clarificar de uma forma muito simples, para que todos os meus leitores o compreendam, o que é um ensino por objectivos e um ensino por competências e o que está por detrás de cada um deles e das opções, por vezes tão diferenciadas, tomadas pelos sucessivos ministérios da educação já que o Ministério da Educação é a entidade tutelar que define as opções, em termos de políticas educativas, seguidas neste país.
No início dos anos noventa, mais concretamente no ano de 1991, o Ministério da Educação impôs o ensino por objectivos. Depois de uns quantos anos a trabalhar com objectivos, o Ministério da Educação revogou os objectivos e impôs, e bem, do meu ponto de vista, a partir do ano lectivo de 2001/2002, um documento intitulado Currículo Nacional do Ensino Básico — CompetênciasEssenciais que nos haveria de acompanhar por uma década até ser despachado no ano de 2011, por Nuno Crato, através do despacho n.º 17169/2011, de 23 de Dezembro que reintroduziu um ensino por objectivos,mas agora travestidos de metas curriculares. Que retrocesso, meus deuses!
Algures neste texto já afirmei concordar com o ME aquando da introdução de um ensino centrado nas competências e passo a explicar as razões.
Um ensino por objectivos está centrado no saber puro e duro, o principal actor é o professor e apela à memorização. E ponto final. Assim explicado, em forma de sumário, já está e é tudo. Muito pobre, portanto, e extremamente redutor, não desafiante, árido, escasso, limitador.
Dou um exemplo muito simples, retirado da disciplina que lecciono - História:
Exemplo um - Definir Neolítico. - Ver página 3 propositadamente das metas curriculares que é para todos perceberem que objectivos e metas c`est la même chose!
E então é assim: o professor vomita a definição na aula, o aluno marra-a, o professor coloca esta pergunta no teste de avaliação, o aluno vomita-a toda certinha e tem 100% da cotação da pergunta. Azar... o aluno não percebeu nadinha do que marrou... mas não interessa, estamos perante um aluno que vale 100 em 100!
Exemplo dois - um objectivo mais complexo - Relacionar a economia de produção com a sedentarização (Revolução Neolítica).
E então é assim: o professor vomita a relacionação, ou seja, vomita o saber, o aluno marra o saber, o professor coloca esta pergunta no teste de avaliação, o aluno vomita-a toda certinha e tem 100% da cotação da pergunta. Azar... o aluno não percebeu nadinha do que marrou... mas não interessa, estamos perante um aluno que vale 100 em 100!
Ou seja, a porcaria é a mesma mudando apenas a complexidade da porcaria marrada.
Quanto a ao ensino que visa a aquisição de competências por parte de um aluno, este pressupõe um saber em acção em que o principal actor é o aluno e vai muito, mas mesmo muito! para além da memorização pura e dura. Ou seja, nunca bastará a um aluno vomitar qualquer coisa marrada para alcançar a excelência. No ensino por competências esta "definição" de Neolítico  ou esta "relacionação" entre economia de produção e sedentarização terão de ser trabalhadas em contexto de sala de aula, conjuntamente pelo professor e pelos seus alunos, sendo o professor um orientador dos trabalhos, um estimulador da análise, um lançador de desafios a que os alunos devem dar resposta pensada por eles e o professor deixa de ser um vomitador da informação. Evidentemente este tipo de ensino não exclui a memorização e só não percebe uma coisa destas... não sei quem.
Assim, eu, Professora de História, coloco um documento num teste que pode ser uma imagem, um texto... o que for sobre o Neolítico e formulo a seguinte pergunta:
Exemplo um - A partir da análise do documento tal, e o documento tal pode ser um documento iconográfico, diz o que é o Neolítico.
Ora isto, que parece poder ser a mesma coisa, é, na verdade, coisa totalmente diferente pois, das duas uma, ou o aluno mobiliza o seu conhecimento sobre a temática questionada, adaptando-o, ajustando-o ao desafio especificamente lançado, integrando-o nos dados do documento, ou seja, ou coloca o seu saber em acção... e atenção que ele tem de dominar as matérias! ou jamais terá 100% na resposta dada porque se ficará pelo despejo de uma coisa marrada e esse é um nível de conhecimento muito redutor.
Exemplo dois - A partir da análise do documento tal, e neste caso para variar o exemplo, pode ser um texto de um qualquer especialista na matéria, relaciona a economia de produção com a sedentarização (Revolução Neolítica).
Ora isto, que parece poder ser a mesma coisa, é, na verdade, volto a repetir quase ipsis verbis, coisa totalmente diferente pois, das duas uma, ou o aluno mobiliza o seu conhecimento sobre a temática questionada, adaptando-o, ajustando-o ao desafio especificamente lançado, e integra os dados do documento, ou seja, ou coloca o seu saber em acção... e atenção que ele tem de dominar as matérias! ou jamais terá 100% na resposta dada porque se ficará pelo despejo de uma coisa marrada e esse é um nível de conhecimento muito redutor.
Ou seja, se no ensino por objectivos, numa turma de trinta alunos esses alunos podem alcançar 100% na sua avaliação vomitando trinta respostas iguaizinhas, no ensino por competências isso será uma impossibilidade estatística... mesmo duas respostas iguais serão altamente improváveis de poder acontecer.
E abstenho-me de dar mais exemplos. Assim de uma forma simples a coisa explica-se desta forma.
Agora digam-me, a política de Nuno Crato para a Educação foi inocente?
Este tipo de ensino, por objectivos, por metas curriculares... - inventem até um nome mais pomposo para a coisa para que alguns distraídos possam engolir tudinho como se fossem deliciosas sobremesas diferentes - interessa ao país?
Sim, interessa, se quisermos criar gente que não analisa porque analisar dá trabalho, que não pensa porque pensar também dá trabalho e... como pensar se nem foi estimulado a fazê-lo?, que não é capaz de criticar porque exercer esta competência é deveras peligroso... e sim, às vezes é! enfim, este tipo de caminho apontado para todo um país interessa se quisermos um país feito de gente autómata... e obediente... isso é que era!!

Era?! O tanas! O retrocesso do Crato cairá. De maduro, de podre, com bom tempo ou durante um temporal... mas cairá. E eu irei aplaudir a queda.


Nota - Desafio os meus leitores a clicarem aqui e entrarem no documento que estabelece as metas curriculares de História. Procurem um objectivo não dirigido ao conhecimento puro e duro. Procurem o fomento do espírito crítico, o fomento da análise, o estímulo à produção própria, à criatividade... pois... não há mesmo.
Assim, se os alunos marrarem as respostas aos objectivos definidos neste documento cratino, se forem a exame com tudo na ponta da língua, vomitarem e escarrarem as respostas como uns autómatos... não é que viram alunos de excelência?

Nota - Este post foi originalmente publicado no blogue ComRegras.

2 comentários:

Arq. Luiz Crespo de Carvalho disse...

os meus parabéns pela excelente prosa...

Anabela Magalhães disse...

Grata, Luiz Carvalho!

 
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