terça-feira, 4 de junho de 2013

Vergonha - Pais pedem aos professores para que não façam greve

 
Vergonha - Pais pedem aos professores para que não façam greve

É o que sinto quando vejo o apelo dos pais a ser mal dirigido pois, na minha opinião, deveria ser dirigido ao MEC e não a nós.

Pais pedem aos professores para que não façam greve

Vejamos o que se passa agora mesmo nas escolas portuguesas e para isso socorro-me de exemplos reais: há professores, na minha escola, neste preciso momento, com 15 turmas atribuídas. Há mesmo uma com 21 turmas atribuídas. De notar que cada um destes professores tem um horário de 22 horas lectivas, 35 horas na totalidade da semana.
Vejamos o caso da Ana Osório, com 15 turmas, três delas de CEF, ou, em alternativa, teria de ter 18 turmas no seu horário, a acumular duas direcções de turma, ou, em alternativa, teria de ter mais duas turmas no seu horário, o que daria a módica quantia de 20 turmas para um horário de 22 horas lectivas. Multipliquem 15 turmas por 30 alunos, o máximo permitido pelo MEC, e teremos o feliz número de 450 alunos; agora multipliquem 20 turmas, que ela não tem este ano mas que nada lhe garante que não terá no próximo ano lectivo, isto no caso dos horários dos professores se ficarem pelas 22 lectivas semanais e trinta e cinco horas semanais totais, ora como ia dizendo... multipliquem 20 turmas por 30 alunos e teremos a módica quantia de 600 alunos para uma professora só.
Demasiado mau, não? Agora pensem que o MEC, que mais parece um meco!, pretende aumentar a carga horária dos professores para 40 horas semanais, sendo 25?... 27? lectivas...
Pornográfico, não?
Como eu sou mãe, professora, estou no terreno e sei do que falo, afirmo aqui alto e bom som - Jamais fiz greve a exames... até às próximas que farei, e farei todas as que forem convocadas para tentar travar a loucura que paira no MEC. É que há poupanças no imediato que se poderão revelar catastróficas já a curtíssimo prazo e este é o caso. E volto a repetir, a minha filha não é aluna de 12º ano porque se fosse a sua mãe seria igualmente uma orgulhosa grevista. Espero que ela absorva este património, esta coluna vertebral... sei que já absorveu.
Se estivéssemos num país a sério, os pais seriam os primeiros a apoiar a nossa justíssima luta na defesa, intransigente, da qualidade da Escola Pública e a exigirem ao MEC que trave esta loucura.
Mas, se os pais querem esta degradação da Escola Pública para os seus filhos... sorry, vou ali e já venho... a ver se respiro fundo.

10 comentários:

Inês Mourão disse...

Eu acho vergonhoso professores fazerem greve porque lhes vão aumentar a carga horária para 40h semanais. Tendo em conta que a carga horária normal está entre 40 a 48h (tirando funcionários públicos) não vejo qual a justificação para esta manifestação, ainda para mais em altura de exames nacionais que determinam o futuro de dezenas de milhares de pessoas e, só por si já são bastante stressantes para os alunos.

Anabela Magalhães disse...

Posso perguntar-lhe a sua idade, Inês Mourão?
Posto isto não posso estar mais em desacordo com o que escreve. Não somos nós que devemos aproximar-nos do horário dos privados e sim o contrário. Não se esqueça que quantas mais horas trabalharmos, nós os privilegiados que permanecemos com emprego, mais trabalhadores condenamos, alguns para sempre, ao desemprego.
É esta a sociedade que pretende para si? É este o futuro que pretende para si? Eu não!
Quanto ao stresse... compreendo-o. Não faço greve dia 17 sem sentir uma amargura muito grande. Mas sei que está nas mãos do MEC travar esta loucura toda.

Inês Mourão disse...

Num mundo ideal talvez fosse como diz e a carga horária fosse menor para todos. No entanto, todos sabemos que hoje em dia é impossível essa situação ser viável, estamos em crise, no fim de contas temos todos (não só os professores) que trabalhar mais para que no futuro possamos então ter o merecido descanso. Penso que mais importante do que aumentar a carga horária é a situação que refere de professores com 17/21 turmas. Acho ridículo que um professor tenha 450 alunos para educar por ano e aí sim, estamos a condenar pessoas ao desemprego. Tenho 32 anos e não sou professora, tenho trabalho, felizmente, e passo cerca de 40h por semana num escritório. Em relação à greve continuo a achar mal terem-na marcado para o dia que foi e não acredito que seja a prejudicar os outros que conseguimos atingir os nossos objectivos. A nossa a liberdade acaba onde a dos outros começa.

Unknown disse...

O que eu acho que está aqui em causa e por esclarecer é que nós professores temos um número de horas lectivas, mais horas não lectivas que perfazem o nosso horário semanal. No entanto, nenhuma dessas horas semanais é para preparação de aulas, elaboração e correcção de testes/trabalhos, preparação de actividades escolares.... Enfim, uma "catrefada" de trabalho obrigatório que não é contemplado de forma alguma nas oras semanais que nos são atribuídas. Infelizmente o nosso trabalho vai todos os dias para casa connosco, mas se de facto querem impor as 40 horas semanais, gosto muito do que faço, mas não sou escravo dos tempos modernos e o trabalho começa a ficar inteiramente e exclusivamente na escola....

Unknown disse...

O problema é a desinformação. Para quem não saiba, o professor tem até 25h/semana de componente lectiva (aulas dadas na escola) mais as horas de componente não lectiva (direcções de turma, grupo, biblioteca, etc). No total vamos já com 30h ou mais (dependendo do horário do prof) e depois para casa, sem serem pagas, sem serem contempladas, o professor tem de levar o seu trabalho que são as planificações, preparação das aulas, elaboração e correcção de testes/trabalhos, actividades como visitas de estudo, exposições na escola, feiras temáticas... Enfim, todo um rol de trabalho que nunca se fala, ninguém comenta e agora ainda querem aumentar para 40h? É da maneira que o meu teabalho ficará para sempre e só dentro da escola. Escravidão dos tempos modernos? Não obrigado! Carreira congelada, cortes constantes no salário, diminuição das condições de trabalho, entre tantas outras barbaridades que ainda nem tive oportunidade de experimentar pois tou no início de carreira... E nós é que somos o lobo mau?

Anónimo disse...

Eu também vou fazer greve! Mas lamento muito que a parte da sociedade que não entende esta greve tenha uma visão assim tão curta. O aumento do horário para 40h semanais é apenas mais UM dos problemas. Na realidade já todos trabalhamos muito mais que isso, mas essa parte da sociedade ainda pensa que somos uns vadios e uns piegas. Algum médico ou enfermeiro leva trabalho para fazer em casa? E um funcionário das finanças? E já agora, um polícia ou um general das forças armadas? Ser professor hoje é muito diferente de há 30 ou 40 anos atrás.
O professor passa cada vez mais tempo na escola, muitas vezes em atividades que não contribuem diretamente para o sucesso dos alunos na sua disciplina, mas que são atividades que promovem o desenvolvimento de capacidades de ordem social, cívica, moral – aquelas que são, em primeiro lugar, responsabilidade dos PAIS e FAMÍLIA. Os pais têm que decidir então o que querem dos professores. Eu tive formação na área da matemática, e da sua didática, e foi para lecionar matemática que quis ser professora. Não estava nos meus planos ensinar sobre educação sexual, cidadania, navegar de forma segura na net – conhecimentos que fui adquirindo em formações pós-laborais pagas por mim! Se me querem a 40h na escola para lecionar matemática (e sou uma privilegiada, porque agora ainda basta 4 ou 5 turmas para ter um horário composto, ou seja, entre 120 e 150 alunos), exijo que me deem condições: preciso de um gabinete com mesa, cadeira, armário e computador com impressora, que não me importo de partilhar com mais meia dúzia de colegas. É que na minha Escola, além de só haver 1 sala de professores (que serve de sala de convívio, de reuniões e onde se almoça) o papel está contado (1 resma por ano) e as impressões/fotocópias também são limitadas (2 testes por período). Tenham respeito, já não digo por nós professores, mas pelo futuro das nossas crianças – que esse, sim – está a ser ameaçado pelo MEC!

Anabela Magalhães disse...

Nem pretendo um país ideal porque sei bem que isso não existe. Mas exijo um país decente. Num país decente o que vem descrito nesta notícia http://www.noticiasaominuto.com/politica/78737/governo-tem-mais-de-quatro-mil-novos-boys#.Ua4aDpwyT5N
não existe. Há dinheiro, Inês Mourão! Que o vão buscar aos off onde estão guardados triliões de euros. Que acabem com os off! Que vão buscar o dinheiro a quem andou a dar golpadas e permanece impune, não a mim que cada euro que ganho é demasiado suado para eu assistir ao seu roubo impávida e serena. Trabalha 40 horas semanais? Tem sorte! Eu com um horário de 35 horas semanais... sou parva! e trabalho bem mais do que isso! O trabalho de um professor é, hoje em dia, inimaginável para a maioria das pessoas que desconhece por completo esta profissão. Horas e horas à noite, depois de jantar, fins-de-semana... sempre com TPC.
E deixe-me dizer-lhe outra coisa - estamos a assistir à maior transferência de rendimentos do trabalho, produtivo, para a alta finança, exactamente aquela que nada produz. Se assim continuarmos, garanto-lhe que isto vai acabar muito mal.
Quanto às greves, direito constitucionalmente reconhecido, só fazem sentido por definição porque prejudicam terceiros. Ninguém no seu perfeito juízo marca uma greve para o seu período de férias!!! Ah! E para que nós hoje tenhamos este direito, houve muita gente no passado a sofrer e a morrer por ele. Nada nos caiu do céu... embora às vezes até pareça...

Anabela Magalhães disse...

"Infelizmente o nosso trabalho vai todos os dias para casa connosco, mas se de facto querem impor as 40 horas semanais, gosto muito do que faço, mas não sou escravo dos tempos modernos e o trabalho começa a ficar inteiramente e exclusivamente na escola...."
Subscrevo as suas palavras, Marco Pinto! Adoro a minha profissão mas no dia em que o MEC se atrever a aumentar-me a carga lectiva, o meu trabalho acaba quando eu passar o portão da escola.
Farei post sobre esta decisão que também é minha.

Unknown disse...

A falta de solidariedade dos portugueses uns para com os outros é um grande problema que tem de ser ultrapassado com muito persistência! Infelizmente temos muita gente a alinhar pelas políticas erradas deste e de anteriores governos e não há maneira de verem que esse não é o caminho! Esqueceram-se rapidamente do slogan de Abril: O POVO UNIDO JAMAIS SERÁ VENCIDO!

Anónimo disse...

Anabela, Marco e todos os outros professores.... TENHAM VERGONHA. O nosso ensino é PESSIMO. A preparação dos professores que supostamente da "em catrefada de trabalho" é PESSIMA. A atitude dos professores é uma autentica vergonha para este pais. NO MORE FREE LUNCHES. Avaliações a todos, 40h para todos, menos desculpas e mais vergonha. Não gostam? Saiam do pais! Ou passem para o ensino privado, e se calhar então poderiam ver o que é de facto sentir o peso da responsabilidade de ensinar, com a obrigação de responder pelos resultados dos alunos. São todos uma vergonha, e ainda tentam justificar a greve. SHAME ON ALL OF YOU.

 
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