terça-feira, 3 de janeiro de 2012

A Avaliação Comunista ou o Milagre das Rosas

A Avaliação Comunista ou o Milagre das Rosas

Hoje vou dedicar este post à avaliação dos alunos na minha escola, no meu grupo, decorrente dos critérios de avaliação que nos são impostos, em larga medida, pelo pedagógico, mas não sem antes fazer uma espécie de introdução mais generalista para os menos familiarizados com estas questões da avaliação.
Devo referir que o que se passa por este país fora em matéria de avaliação de alunos é múltiplo, variado, complexo e, em alguns casos, até vergonhoso. Desde critérios que contemplam 90% para a componente cognitiva e 10% para a restante componente sócio-afectiva, de atitudes e valores ou lá como lhe chamam nos milhares de escolas deste país, até 40% para a componente cognitiva e 60% para o resto, não sei se há pior!, ao longo destes anos já fui sabendo de tudo e mais alguma coisa e já fui abrindo a boca de espanto por serem professores a definir, e a decidir, maluqueiras atrás de maluqueiras que só servem para enganar tolos.
Escusado será dizer que os meus alunos obterão resultados completamente diferentes conforme a escola onde eu me encontre a leccionar e os critérios que eu for obrigada a respeitar, e eu respeito-os sempre, e escusado será dizer que as avaliações internas que eu faço aos meus alunos serão sempre diferentes das avaliações externas dos mesmos, tanto mais diferentes quanto os critérios menos contemplarem a importância da componente cognitiva, única componente avaliada na avaliação externa. Não quero avançar mais sem antes constatar aqui, e por escrito, que fico sempre de boca aberta até às orelhas ao ver professores a compararem o que não é comparável, avaliação interna e avaliação externa, num exercício desonesto ou pelo menos estúpido e parvo que me deixa literalmente de cabelos em pé, no mínimo, e ainda bem que são curtos, os cabelos, ou faria uma figureta desgraçada e deveras insólita. Escusado será dizer também que, a existir comparação, ela teria/terá sempre de se fazer entre dados da avaliação da componente cognitiva interna e da avaliação externa e assim é que está correcto e assim é que é honesto e assim é que é válido. E ponto final e não me venham com tretas.
Posto isto vamos então aos critérios de avaliação em vigor na minha escola, no meu grupo, que são públicos, do meu ponto de vista correctamente porque quem é avaliado tem o direito de saber como é avaliado e o que conta para a sua avaliação.
Apenas mais um parênteses para quem não está muito habituado a estas matérias - mesmo dentro da mesma escola existem flutuações e variações de grupo para grupo, quer quanto aos parâmetros avaliados, quer quanto aos respectivos pesos e existem mesmo variações nos pesos atribuídos às várias componentes - cognitiva...  e blá blá blá...
Posto isto, para o meu grupo, História, 3º Ciclo, a distribuição é de 70% para a componente cognitiva e 30% para a componente atitudes e valores.
Ora a distorção que isto implica na avaliação é qualquer coisa de extraordinário, e para mim excessivo, e um dia destes resolvi explicar tudo isto tim tim por tim tim a uma pessoa que me é muito próxima, mas nunca foi professora, para colher a sua opinião exterior e dei-lhe um exemplo concreto, tirado ao acaso do meu espólio avaliativo que guardo religiosamente para poder esfregar, em caso de necessidade, na cara de alguns parvos que gostam de mandar umas bocas foleiras quando para aí estão virados.
Pois numa turma de 20 alunos, o resultado da avaliação na componente cognitiva foi:

5 níveis 2
7 níveis 3
5 níveis 4
3 níveis 5

Depois de aplicados os critérios o resultado final foi:

1 nível 2
7 níveis 3
7 níveis 4
5 níveis 5

Comentário do meu próximo após apreciação deste fenómeno - "Sabes o que vós estais a fazer? Estais a avaliar os alunos inspirados nos modelos comunistas e estais a tentar apagar as diferenças entre os melhores e os piores com prejuízo dos melhores."

Pois é. É que aplicados os critérios de avaliação em vigor na minha escolinha, no meu grupo, e eu aplico-os e sei muito bem do que estou a falar, muitos alunos conseguem posicionar-se um nível acima daquele a que efectivamente correspondem os seus conhecimentos, sendo que os únicos prejudicados são os alunos verdadeira e genuinamento de 5 que, não podendo subir para coisa nenhuma, porque a subir teriam de subir para o nível 6 e este, estrategicamente, não existe, ficam remetidos à única avaliação em que a bota diz com a perdigota.
E assim temos que de uma percentagem de 25% de negativas passei, após aplicação dos critérios de avaliação, para uma percentagem de 5% de negativas, qual milagre das rosas da rainha Santa Isabel.

Não vos parece tudo isto assim a modos que um bocado... pois, o que quiserem...
A mim não me parece bem e não me calo sobre este assunto até me provarem por A+B que eu estou errada e eles/elas certos.
E sim, sobre este mesmo assunto em tempos já cheguei ao DN.

9 comentários:

Anónimo disse...

Sem pôr nem tirar, Anabela! Esta avaliação é nociva para todos: com ela, uns dão-se à preguiça e outros à desmotivação. É tralha!

Anabela Magalhães disse...

Não desisto de denunciar a situação. Sou persistente... eheheh...
E estamos enredados em tralha... esta é apenas uma parte.
Bjs

Maria de Lourdes Valbom disse...

Também sou professora do secundário. De economia. No nosso departamento, não conta para a avaliação sumativa, as atitudes e os valores. De um modo geral , 80 % para os testes escritos e 20 % para trabalhos, relatórios, apresentações etc feitos na aula , ou em grupo. Enfim isto +é deixado ao critério de cada grupo disciplinar. O Pedagógico é quem tem a última palavra , aprovando ou não , mas cabe ao coordenador defender os seus critérios.

Anabela Magalhães disse...

Eu sou professora numa EB, lecciono 3º Ciclo. As diferenças são enormescas nas escolas deste país aquando da avaliação dos alunos: diferenças que existem de escola para escola, de ciclo para ciclo, de grupo para grupo dentro da mesma escola... enfim, é o que temos. É a bagunça total.
Do pedagógico da minha escola saiu a seguinte informação - entre 60 e 70% para o cognitivo e o restante para atitudes e valores. Optámos pela menos gravosa para os alunos, mas eu não deixo de protestar pois parece-me muito excessivo.
Seja bem-vinda ao meu blogue e obrigada pela participação e testemunho, Maria de Lourdes!
Bom ano!

nelya disse...

Para que estudar pensam e dizem os alunos....no final do ano passamos todos....esta é infelizmente a realidade no 3º CEB. Agora com a escolaridade obrigatória até ao 12º a fantochada vai continuar no secundário.

Maria de Lourdes Valbom disse...

Conheci o seu blog há cerca de 1 mês, creio. Gostei. Uma forma inovadora de comunicar, informar, ensinar, aprender... Estou a pensar criar também um, até como forma de interagir e motivar os alunos.

O seu está completissimo e é muito interessante. Parabéns!
Por cá vou passando ...
Bom trabalho e óptimos dias

Anabela Magalhães disse...

Olá de novo, Maria de Lourdes!
Muitíssimo obrigada pelas suas palavras de apreço e incentivo.
Quanto a abrir o seu blogue... só lhe posso dizer que se precisar de ajuda sabe onde me encontrar.
Beijinhos e desejo-lhe tudo de bom.

Maria de Lourdes Valbom disse...

De facto há professores empenhadissimos que lutando contra ventos e marés t~em esta enorme força, garra e entusiasmo que emana do seu trabalho.É o que vai valendo, face a tanta incompetência, desinteresse e falta de empenhamento.
Pena é que tratem todos do mesmo modo, para não dizer pior.

Desejo que continue com esta força porque acaba tb por nos inspirar.

Maria de Lourdes Valbom disse...

Fiz com umas colegas e amigas um blog .É um recém nascido. O seu tema é cidadania. Aqui o envio se tiver curiosidade.
Nada que se pareça com os seus .

cidadasguerreiraswordpress.com

 
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