quinta-feira, 28 de abril de 2011

Atentado em Marrakech


Praça Djmaa el Fna Vista da Esplanada do Café Argana - Marrakech
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

Atentado em Marrakech

Quantas vezes terei eu entrado no café Argana, em Marrakech, e subido as escadarias em mármore gasto como o raio que o parta pelos pés dos milhões de turistas que por ali treparam, e continuam a trepar, até um primeiro andar de esplanada sobranceira a uma praça única que é Património Mundial da Humanidade? Mais de cem? É provável. O café Argana é um ícone da Praça dos Mortos, ou da Praça Djmaa el Fna, para a qual se abre generoso, dia e noite, numa afluência que raramente abranda, faça sol ou faça chuva, faça calor de esborrachar ou frio de rachar, que Marrakech, a Vermelha, é mesmo assim, também ela generosa com os locais e os estrangeiros, sejam eles residentes, muitos, turistas de griffe ou simples viajantes à procura de um país que teima em não se deixar desvendar. Marrakech, cidade interior de Marrocos, a meio caminho do Sahara que eu amo, é uma cidade extraordinariamente buliçosa e cosmopolita, feita de linguajares de todo o mundo, de vestimentas diversas, de odores exóticos, de cores mais do que espampanantes, feita de encantos mil.
Ao que parece, o atentado de hoje, que provocou 15/18 mortos, a informação é confusa, foi perpetrado por um bombista suicida que, ao escolher a instituição Argana, atingiu o coração de Marrakech com enorme estardalhaço.
À hora a que se registou, o Argana costuma estar cheio de turistas que chegam cedo para reservarem uma mesa para o almoço, na esplanada com vistas panorâmicas para a praça imensa, que àquela hora costuma estar "apenas" com a turistada aos molhos, com os vendedores de frutos secos e de sumos de laranja, divinais, como só divinal consegue ser um sumo de laranja feito à nossa frente, fresquinho, bebido ali mesmo... sorvido por uma palhinha... enquanto se olha em redor para a Surreal Vermelha.
Espero que não haja portugueses entre os muitos mortos e feridos, probabilidade muito provável, passo a redundância da expressão, dada a afluência que eu sempre por lá registei, probabilidade que só não se concretizará por mero acaso.
Espero que Marrocos, um reino tranquilo e pacífico, feito de gente hospitaleira e calorosa, não sofra os efeitos nefastos em termos de redução drástica de turistas.
Espero que tudo se recomponha, Youssef, e que o teu país volte a ser o que me disseste há pouco, pelo telefone - tranquile, tranquile como só Marrocos sabe ser, mesmo no coração da imensa confusão de Marrakech, la Rouge.

Nota - Quem quiser saber mais um pouco desta especial praça pode clicar aqui. E para apreciar, com mais conforto, o bulício registado na fotografia basta clicar sobre ela e ampliar.
Entretanto o número de mortos parece que se eleva a 20, as informações continuam contraditórias. De qualquer forma, deplorável.

5 comentários:

Cláudia Queirós disse...

este teu post está comovente! Muito bem escrito... como tu o sabes fazer tao bem! Beijo!*

Anabela Magalhães disse...

Muito obrigada, Cláudia!
Azar tu não teres conhecido Marrakech quando te levei a Marrocos... foi uma das raras viagens, de anos consecutivos, em que lá não fui... que raio!

Cláudia Queirós disse...

Foi mesmo! :(

Unknown disse...

Nunca fui a Marraquexe, gostaria de lá ir um dia, mas, com franqueza, este acontecimento deixa-me um pouco de medo. Lamentável!

Anabela Magalhães disse...

Eu não sou particularmente medrosa, Lelé e acredito que acontece o que tem de acontecer. paris já conheceu inúmeros atentados e não é por isso que eu deixo de ir. Para Marrakech embarcava já hoje...
Beijocas

 
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