quarta-feira, 26 de maio de 2010

Arquinho e Memórias de Infância


"Os meus postais" - 6 . Edição Pedro Barros / Manuel Carneiro

Arquinho e Memórias de Infância

O meu colega dos bancos de escola e amigo de longa data, Pedro Barros de seu nome, autor do blogue Das Margens do Rio, um amante incondicional de postais antigos, nomeadamente de Amarante, ofereceu-me três postais de uma Amarante que só subsiste em parte e que ele continua a editar amorosamente, desta vez em parceria com Manuel Carneiro.
O tema fotografado é um Arquinho que o meu avô Rodrigo conheceu muito bem, um chão empedrado que o meu avô pisou infinitas vezes e uma casa comercial que ainda hoje subsiste sem grandes alterações na fachada, a famosa Casa Rodrigo Ferreira da Cunha, do senhor Rodrigo Ferreira da Cunha, padrinho de baptismo do meu avô paterno, que dele ganhou o nome.
A casa em primeiro plano, que se vê à direita, já não existe há muito e essa e outras construções foram demolidas para dar lugar a uma praça, a Praça do Arquinho, desafogada é certo, mas que, desde o seu nascimento, tem conhecido sucessivas alterações de visual, nem sempre para melhor, até muito pelo contrário.
Ampliem a imagem e procurem pequenos pormenores de uma Amarante, de um Portugal, algures pela década de vinte, que não existe mais.
Curiosas são as minhas memórias dos anos sessenta, que guardo em mim, de gente que chegava das aldeias em dias de mercado ou feira de gado, vestidos de forma não muito diferente à que podemos observar na fotografia, os homens de capote ou samarra, chapéu na cabeça, camisa branca de colarinhos, as mulheres de preto carregado, muitas, lenços na cabeça, saias compridas rodadas e amplas, socas nos pés, carregando cestos cobertos de produtos variados, carros de bois ainda passarinhando-se pela cidade, cavalos e burros... o moleiro que acompanhava a par e passo o seu burro carregado de sacos de farinha, moída nas azenhas do rio, ainda em funcionamento durante a minha infância, e que passava à porta de casa dos meus pais regularmente; a leiteira carregada de leite ainda quente, acabado de tirar das tetas da vaca e que eu bebia, frequentemente, logo ali... sim eu sei, um perigo, nem sei como sobrevivi! E a senhora que chegava a casa dos meu avós com tabuleiros de queijos frescos pousados em folhas verdes de vide e bolas de berlim envoltas em panos, das quais ainda hoje sinto saudades. Muitas saudades do sabor mil vezes saboreado daquelas delícias comidas devagar, daquelas bolas caseiras de comer e chorar por mais! E ainda a Maria, a senhora que vinha todos os dias, religiosamente, buscar o balde da lavagem, que era feita em casa dos meus pais num aproveitamento levado ao extremo de todas as sobras de comida e de gordura e que servia para alimentar os porcos do Sr. Augusto, pai da Maria e nosso vizinho não muito distante.
E do Arquinho dos anos vinte divaguei para Amarante da minha infância, herdeira directa desta Amarante do postal.
Hoje mergulhei nas minhas memórias de infância e num tempo que já não existe há muito.
Obrigada, Pedro!

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