sexta-feira, 26 de setembro de 2008


Capas e Capinhas - Esa - S. Gonçalo - Amarante
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

Um Exemplo de Burrice
Planificações Anuais

Vou concentrar-me neste exemplo da burrice que grassa nas escolas portuguesas, nestes dias que passam, esgotantes e caóticos. Podia dar outros, que exemplos não faltam, numa escola que se complica à medida que a tutela cria cargos dentro duma hierarquia que já foi bem mais simples, e que se complica à medida que, aspirando à organização extrema, lança o caos por tudo quanto é lugar.
Comecemos pelo meu grupo disciplinar, o 400, que até é bem pequeno, constituído que é por sete docentes de História. Este grupo é responsável pela elaboração da Planificação Anual para os vários níveis de escolaridade, do sétimo ao 12º ano, e a responsabilidade pela elaboração destas mesmas planificações é distribuída pelos professores que leccionam os respectivos níveis.
Eu e o M fizemos as planificações anuais para o 7º ano já que só nós leccionamos sétimos anos de História.
A planificação impressa ocupa 25 folhas. E eis que começa a burrice.
As cópias destas 25 folhas estão espalhadas por capinhas por todo o departamento, à esquerda e à direita, em armários assim e assado, sendo que o departamento é uma sala com cerca de 30 metros quadrados.
Para a Coordenadora de Departamento - 1 exemplar - 25 folhas;
Para a Coordenadora de Disciplina - 1 exemplar - 25 folhas;
Para o portefólio do M - 1 exemplar - 25 folhas;
Para mim - 1 exemplar - 25 folhas
Vamos pois em quatro cópias da mesma coisa, arquivadinhas em quatro capinhas diferentes, guardadinhas em armários diferentes, todas, todinhas, na tal de sala de departamento, que terá uns 30 metros quadrados. E já gastámos 200 folhas de papel para os mesmos documentos existirem em quadruplicado.
O meu grupo é muito pequeno, o que não é o caso de outros lá na escola. Há outros níveis, de outras disciplinas, leccionados por bem mais professores e assim sendo a papelada multiplica-se por cinco, seis, sete, enfim, o que calhar de cópias, nesta loucura colectiva que se abateu sobre a escola portuguesa.
Não bastaria um exemplar, na capinha da chefia máxima que é o Chefe de Departamento, arquivadinho num armário da sala de Departamento? Melhor ainda. Não faria sentido uma página digital por departamento que agregasse as páginas dos vários grupos e onde estaria centralizada toda a tralha? Não estaria na hora de simplificarmos em vez de complicarmos? É que todos nós temos os documentos em suporte digital e depois esbarramos na fotocópia.
Na ESA somos 170 professores. E, como dizia um "ilustre" da nossa praça, "É só fazer as contas."
E ainda não falei de planificações trimestrais ou por unidades didácticas. E ainda não falei das planificações de aula. E ainda não falei dos critérios de avaliação de cada disciplina. Outro filme! E ainda não falei dos relatórios exigidos para qualquer actividade, das actas necessárias para todas as reuniões, no caso dos Cef`s, semanais, dos planos de acompanhamento e recuperação para alunos com dificuldades, dos projectos curriculares de turma, quais testamentos!, da tralha que é necessária para a construção do portfólio individual do professor, dos contactos com os encarregados de educação, tudo escritinho, da legislação... tudo arquivadinho, quanto mais grelhadinho melhor.
No final, os grelhados somos nós, grelhados no meio de tanta burrice.

11 comentários:

CLAP!CLAP!CLAP! disse...

AM:
Podes-me dizer pf, em que matérias frás uma abordagem prévia, na turma 8G, no dia 22 de Abril às 11:34 TMG???
tou-te a abaliarrrrrr!!!!

Anabela Magalhães disse...

Ufa! Que alívio! O 8G não é meu!

maria eduarda disse...

Coitadas das nossas árvores!!! Tadinhas!!!
Segue-se, uma cópia para o Coordenador de Departamento, uma cópia para o órgão de gestão, uma cópia para o DT,uma cópia para o representante do grupo...Falta alguma coisa?
E estamos nós na era das novas tecnologias...
É demais!
Este ministério está a levar a dele avante. Se está!

Anabela Magalhães disse...

Está tudo tolo é o que é, Maria Eduarda.
Beijocas
Excelente fim-de-semana.

maria eduarda disse...

O mesmo para ti, Anabela!O que vale é que a vida é bela... e a Lurdinhas está a dar cabo dela.
Bjs

Helder Barros disse...

Anabela, poeque será que a nossa tutela não entende um texto tão clarinho e relevante como o teu?
Mais cego é que não quer ver...
Só se refugia na Burocracia quem tem medo de viver e de fazer... arre Burros da burrocracia!

Anabela Magalhães disse...

Sabes o que me preocupa, Helder?
Acho que o problema está também no meio de nós, o que ainda consegue ser mais grave do que se estivesse só na tutela.
Não te parece complicação a mais? Falta de planificação do trabalho? Actuação forçada pelos acontecimentos, em cima dos acontecimentos e mesmo depois dos acontecimentos?:)

maria eduarda disse...

Repasso msg tal como a recebi.
________________________________________
Caros professores,

No ano lectivo de 2008/09, a avaliação de desempenho será para cumprir integralmente, conforme o monstruoso ECD do ME e a respectiva regulamentação, salvaguardando, apenas, o facto de ser experimental. Quem não foi avaliado no ano lectivo de 2007/08, será avaliado agora em relação aos dois anos lectivos.

É clarividente que estas leis têm como objectivo favorecer as falsas estatísticas e destruir os professores, para obter votos da população a qualquer preço e para poupar dinheiro. São medidas do mais descarado populismo!

O maior azar seria este ano lectivo decorrer com tranquilidade, o que iria consolidar estas leis! Quanto mais turbulência houver, melhor é para os professores! Não devem procurar soluções aparentes e duvidosas, mas denunciar o que está mal. Leis inexequíveis não se podem cumprir; leis erradas não se devem cumprir!

[...]

É favor fazer chegar esta mensagem ao maior número possível de professores.
TODO O TEXTO EM http://mobilizacaoeunidadedosprofessores.blogspot.com/



Bom sábado!

Fátima André disse...

Burrice mesmo! Inteiramente de acordo. Como se papéis se traduzissem em melhorias, qualidade ou qq. coisa do género. Simplificar não significa simplista ou menor qualidade, antes pelo contrário, pode traduzir-se em tempo para reflexão e preparação de melhores caminhos, instrumentos... TUDO MAIS. Mas, com sabes, a nossa tutela autista não chega lá e uma grande parte das escolas e nos nossos colegas ainda conseguem amplificar a burrice dos doutos.
Beijinhos e bom domingo :)

Anabela Magalhães disse...

Pois é, Fátima, já são muitos a complicar.
A ver vamos.
Bjs

EMD disse...

O prometido é devido: mais papistas que o papa, ou estamos perante um modelo de avaliação que dá para tudo?
Nós por cá: não sei bem se sou eu que ando "distraída" ou se é o contexto em que me movo que anda a assobiar para o lado.
Pois olhando para o que vai aí por este país, mais particularmente pela tua ESA, quase posso dizer que na ESCM vamos na "modorra" costumeira do mês de Setembro.
Ou seja, hoje vai decorrer a eleição do Conselho Geral Transitório (o que na vizinhança já se fez há algum tempo). De capas, capinhas, capotes e quejandos ainda não se fala. Objectivos individuais só para Novembro (já foi decidido no final do ano lectivo).
Entretanto, devo dizer que "algumas modas" já estavam implementadas há anos. Por exemplo: os critérios e instrumentos de avaliação de cada disciplina, muito explicadinhos, entregues a cada aluno e aos DTs (para os PCTs); Gestão Curricular de cada disciplina entregue aos DTs, para integrar os PCTs; Planificações anuais (no meu caso 3/5 páginas) arquivadas no Departamento, junto com a outra papelada acima referida; reuniões de Conselho de Turma para preparar o ano, definir actividades e afinar estratégias (PCTs) feitas antes do início das aulas, sendo as próximas só em fins de Outubro/princípios de Novembro (a menos que haja grande necessidade.)
Muita desta tralha em suporte digital mas também em suporte de papel, "tadinhas das árvores"!
É certo que aqui houve um firme movimento de negação/rejeição, (diga-se a verdade mais ou menos inconsciente), tanto que as fichas de avaliação dos docentes só foram feitas em Junho/Julho e, mesmo assim, tiradas a ferros.
Também é verdade que se sente um clima de perturbação, mais ainda latente.
A imagem que melhor traduz o que sinto é a do adensar de nuvens tormentosas que ou vão dar uma fortíssima trovoada ou vão ser varridas pelos ventos!
Insisto: não sei se é isto mesmo que se passa porque, como já te disse, sou um pouco outsider/desalinhada. Mas também não ando cá a ver passar os comboios e costumo farejar bem as movimentações ao mínimo sinal. Não dou é ouvidos ao diz que disse. Nem me ponho com discursos no "speaker's corner" da sala de profs, sem deixar de dizer o que penso seja onde for.
Vamos a ver...
Ah, já me esquecia: pela primeira vez em muitos anos, à eleição de hoje concorrem DUAS listas, facto que saudei (tiques de pluralismo) sonora e efusivamente!
Será que algo vai mal neste paraíso à beira-serra plantado?
No stress!
Beijinhos e perdoa o tamanho do "relatório".
Elsa D de Duarte

 
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