quarta-feira, 17 de setembro de 2008


O Monstro - Portugal
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

O Monstro

O Monstro está no terreno, invadiu a escola, insinua-se e penetra em tudo quanto é sítio. Ninguém lhe escapa, ninguém lhe está imune. O Monstro tem nome, chama-se Avaliação de Desempenho de Professores, e já está à solta por tudo quanto é espaço escolar deste país.
Tive a percepção do Monstro que o ME estava a parir e lutei contra ele de todas as formas que pude. Escrevi e publiquei a minha indignação face a medidas atabalhoadas que se decidem à pressa e depois logo se vê. Protestei publicamente fazendo ouvir a minha voz em várias manifestações que se foram fazendo no decurso da luta. Não me furtei dela. Da luta. Incomodei-me. Voltei a incomodar-me. Assisti aos solavancos protagonizados por uma legislação trapalhona que foi saindo. Assisti ao recuo do ministério ao concordar não implementar o modelo complex durante o ano lectivo que findou. Palpita-me que a escola portuguesa teria implodido se o ministério não tivesse recuado e hoje pergunto-me se não teria sido melhor. Adiante. Assisti ao entendimento entre o ME e os Sindicatos e concordei com ele.
Posto isto, qual é a minha posição face ao Monstro?
Implementá-lo o melhor que posso e sei, procurando não fazer batota. Exigindo que não façam batota. Comprovar no terreno o que não é exequível. Criticar. Exigir alterações e simplificações ao Monstro.
O Monstro foi largado. E, à largada, quero registar o que penso, para voltar a este assunto durante e no final deste ano lectivo, fazendo um ponto da situação e um balanço das consequências desta largada.
À largada, penso que o Monstro reduziria de obesidade com uma periodicidade de avaliações que abrangessem quatro anos de actividade lectiva e classificações no final deste período. Reduziria o stress e dar-nos-ia tempo para amadurecer, reflectir, preparar, ponderar as melhores estratégias, não esquecer os alunos.
Penso que as aulas assistidas não trazem qualquer vantagem para o processo de ensino-aprendizagem, pelo contrário, são potenciadoras de tensões e conflitos entre pares, absolutamente indesejáveis no seio duma comunidade escolar. Basta ler alguns testemunhos de reitores do Estado Novo que eu, em tempo oportuno, publiquei neste blogue. Penso que as aulas assistidas deveriam ficar reservadas aos casos em que o professor sente sérias dificuldades no exercício da sua profissão, e está em risco de ter uma avaliação negativa. Estas observações deveriam ser potenciadoras de novas e melhores práticas e saberes. Com um cariz formativo, portanto, e não punitivo. Não punitivo à partida, que o sistema também tem de saber expurgar a balda. E as energias dos avaliadores deveriam ser canalizadas para estes docentes que precisam, verdadeiramente, de ajuda, e não dispersas por três aulas assistidas por ano, feitas de forma indiscriminada, a torto e a direito. Cento e sessenta professores vezes três aulas, dá a módica quantia de quase quinhentas aulas assistidas por ano, na minha escola, o que do meu ponto de vista é a loucura total em desgaste físico e psicológico de avaliadores e avaliados. O Monstro ficaria menos obeso com esta simplificação.
Penso ainda que o cálculo percentual de objectivos para o sucesso escolar dos alunos e para a taxa de abandono é um enooooooorme e completo disparate. Não estamos a ensacar chouriços ou salpicões numa linha de montagem. O sucesso e abandono dos nossos alunos está condicionado por variáveis que nós não controlamos: económicas, sociais, políticas, culturais. Que nós façamos tudo o que está ao nosso alcance para que se verifiquem taxas de sucesso de cem por cento e de abandono de zero por cento, concordo. Nada mais do que isto. De resto, o ME quando quiser acabar com as taxas de insucesso pode fazê-lo em três tempos, de uma forma mais limpa e cristalina, e honesta, e eficaz, do que esta pressão doida sobre os professores amarrando a sua própria avaliação ao sucesso dos seus alunos. O que se passa é tal e qual como se fizessem depender a avaliação dos juízes do número de réus que absolvem. Era bonito, não era? E o ministério tem uma maneira tão simples de resolver isto! Decreta a passagem administrativa. Simples, barato... só não dá milhões!
E por aqui me fico, que já disse exactamente o que queria dizer, aqui e agora.

19 comentários:

www.angeloochoa.net disse...

razoalidade e bom senso MÁXIMO em seu texto anabela. so nao entende quem andar possuido do furor reformista deste des-governo nosso.. sabe tao bem como nos q quem paga factura destes desmandos é país somos nós é nosso futuro sao os alunos destino ultimo de nossos esforços. q mais lhe dizer q nao soe a inutilidade ou a silencio? q diga diga diga SEMPRE DA FAÇANHUDA FRONHA DESTE HORRENDO MONSTRO Q NOS ACOSSA ... diga diga q verdade não conhece medo diga rediga a proposito ou a desproposito q tal DESMANDO nao dara connosco em loucos ... será q é isso q sonham «nossos» controladores terraquios? ou será somente exibir estatisticas de novas opotunidades mil de mil garantias de futuro BARBARO DIGO EU pra nossos alunos nossos filhos nossos netos.

Anabela Magalhães disse...

Quem paga a factura destes desmandos é mesmo o país na sua totalidade. Mais cedo ou mais tarde.
E é verdade, Ângelo, o Monstro, horrendo, tem uma façanhuda fronha.

Passiflora Maré disse...

E disse-o bem, mesmo muito bem!
Mas espere que a roda no seu movimento se não piorar, melhora...
A vida é movimento. O tempo é movimento. A nossa ansiedade e mesmo, às vezes, alguma revolta tem de ser contrabalançada por essa simples sabedoria, O TEMPO TUDO CURA, O TEMPO TUDO DESTRÓI E RECONSTRÓI...

Anabela Magalhães disse...

Obrigada, Passiflora, pela sua compreensão.
Estou a ficar deveras decepcionada, logo eu que gosto de mudança e movimento! Estou igualmente preocupada. Bastante preocupada com a sanidade mental dos professores portugueses. Muito preocupada porque podemos não conseguir segurar as pontas, como o ano passado, e salvar, na medida do possível, os nossos alunos da barafunda total.
A ver vamos.

Helder Barros disse...

Tens razão em tudo o que dizes sobre o Monstro! Corroboro! Postagem brilhante, brilante Blue Scorpion!

Anabela Magalhães disse...

Obrigada, Helder. Não queria deixar de marcar a minha posição à largada do Monstro. Não queria deixar de emitir a minha opinião sobre este assunto que me incomoda, e deixá-la aqui registada e publicada.
De resto já sabes como eu sou.

Bea disse...

Fixe Anabela, escreveste tão bem que até parece que o Monstro ficou mais giro...*
Mentira, nunca será bonito este monstro que entrou nas nossas vidas e com quem vamos ter de conviver. Continuo com uma secreta esperança que isto não vai durar muito, e não costumo enganar-me, ان الله يريد(queres que traduza?)Bjs

Anabela Magalhães disse...

من ويكيبيديا، الموسوعة الحرة
(تم التحويل من الوطن العربي)
اذهب إلى: تصفح, ابحث

العالم العربي
علم الثورة العربية: أول علم عربي حديث (علم الدولة العربية الموحدة)، ويستعمل للدلالة على العالم العربي والوحدة العربية
علم جامعة الدول العربيةيمتد الوطن العربي أو العالم العربي جغرافيًا من المحيط الأطلسي شرقاًحيث يقع المغرب العربي إلى بحر العرب شرقاً، شاملاً الدول التي تتخذ العربية كلغة رسمية فيها، والتي تنضوي تحت عضوية جامعة الدول الالبيلاتتة

E esta, Tizinha?

Bea disse...

LOL
Wikipedia, a enciclopédia livre ... espectáculo LOL

Raul Martins disse...

Definitivamente comprovo que estás em forma.
E lembrei-me dos farmacêuticos que tens no teu condomínio e de algumas receitas que já por aqui colocaste… não há remédio que combata este monstro?
.
E bem gostaria de acreditar nas palavras da Passiflora: O TEMPO TUDO CURA, O TEMPO TUDO DESTRÓI E RECONSTRÓI...

Mas quanto tempo temos ainda de esperar? Quanto tempo ainda temos que lutar? E valerá a pena?
.
Carpe diem!

EMD disse...

Ando assim numa de poupar esforços e energias, usando-os exactamente no sentido de não deixar que o monstro interfira no que seria " a normal" azáfama do início de ano. A escola parece andar também assim.
Mas ando cá há tempo suficiente para saber apanhar as pontas soltas e adivinhar as sombras que o monstro já deixou nos olhos dos que me rodeiam.
Que tiste e miserável país vamos ser se as manchas monstruosas nos nublarem completamente o olhar.
Estou com os da corrente optimista que me precederam:
Tal monstro há-de estoirar!
Por ora nem quero saber até onde irá o caos e que novo mundo daí nascerá. O aforro de energia não dá para tanto...
Beijos, ó bela e certeira prosadora!
P.S.: Agora por certeira, adoptei a seguinte máxima que repito e repito a rir: Se me falam de avaliação, saco logo da pistola!

Anabela Magalhães disse...

Á receita do azoto líquido mantém-se actual. O pior mesmo é apanhar o monstro, disseminado que está já por tudo quanto é lado!
Fica bem, Raul.

Anabela Magalhães disse...

Lol... a enciclopédia livre!!!!

Anabela Magalhães disse...

No comentário das 14:27 de ve ler-se "A receita..."
Elsa, vou alterar a tua máxima para: Se me falam em avaliação saco logo do pistolão!
Beijocas.

laurita disse...

Bem, como tentei comentar um dia destes (e parece que não consegui; eu bem vos tinha avisado da minha incompatibilidade com as machines), a era pseudo simplex tornou-se numa real complex... Como dizia a nossa querida A.G. hoje numa reunião (só mais uma): "o ensino deixou de ser pedagógico para ser burocrático..."
Xi coração

PS Deviamos fazer uma peça de teatro com o material disponível... Seria uma tragicomédia!

laurita disse...

PS 2 Não concordo! Em alternativa ao pistolão sugiro um violão! O pessoal está a precisar de música, cinem e outras coisas tais...

Anabela Magalhães disse...

Boa ideia, Laurita.
Ficará assim: Se me falam de avaliação, saco do violão!
Mas não se acanhem... continuo a aceitar sujestões...

Ramiro Marques disse...

Excelente post, Anabela!

Anabela Magalhães disse...

Muito obrigada, Ramiro. Seja bem reaparecido aqui pelos comentários.
Fique bem e continue com o seu excelente trabalho
Bjs

 
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