sexta-feira, 7 de março de 2008

Ah, Leões!!!!!

"Os professores do Departamento de Línguas e Literaturas, da Escola Secundária D. Maria II, Braga, na sua reunião ordinária de hoje, 5 de Março, abordaram, inevitavelmente, o modelo de avaliação que nos querem impor. Após demorada, participada e viva discussão, os respectivos professores decidiram redigir e aprovar o documento que, de seguida, transcrevo na íntegra:*

. Atendendo a que, sem fundamento válido, se fracturou a carreira docente em duas: professores titulares e não titulares;
. Atendendo a que essa fractura se operou com base num processo arbitrário, gerando injustiças inqualificáveis;
.Atendendo a que os parâmetros desse concurso se circunscreveram, aleatória e arbitrariamente, aos últimos sete anos, deitando insanemente para o caixote do lixo carreiras e dedicações de vidas inteiras entregues à profissão;
. Atendendo a que, por via de tão injusto concurso, não se pode admitir, sem ofensa para todos, que seguiram em frente só os melhores, e que ficaram para trás os que eram piores;
. Atendendo a que esse concurso terá repercussões na aplicação do assim chamado modelo de avaliação, já que, em princípio, quem por essa via acedeu a titular será passível de ser nomeado coordenador e, logo, avaliador;
. Atendendo a que, por essa via, pode muito bem acontecer que o avaliador seja menos qualificado que o avaliado;
. Atendendo a que o modelo de avaliação é tecnicamente medíocre;
. Atendendo a que o modelo de avaliação é leviano nos prazos que impõe;
. Atendendo a que o modelo de avaliação contém critérios subjectivos;
. Atendendo a que há divergências jurídicas sérias relativas à legitimidade deste modelo; . Atendendo a que o Conselho Executivo e os Coordenadores de Departamento foram democraticamente eleitos com base nas funções então definidas para esses órgãos;
. Atendendo a que este processo, a continuar, terá que ser desenvolvido pelos anunciados futuros Conselhos de Escola, Director escolhido por esse Conselho, e pelos Coordenadores nomeados;
. Nós, professores do Departamento de Línguas, da Escola Secundária D. Maria II, não reconhecemos legitimidade democrática a nenhum dos órgãos da escola para darem continuidade a um processo que extravasa as funções para as quais foram eleitos;

. Mais consideram que:

. Por uma questão de dignidade e de solidariedade profissional, devem, esses órgãos, suspender, de imediato, toda e qualquer iniciativa relacionada com a avaliação;
. Caso desejem e insistam na aplicação de tão arbitrário modelo, devem assumir a quebra do vínculo democrático e de confiança entre eles próprios e quem os elegeu, tirando daí as consequências moralmente exigidas.

*Notas:*

*1 – Dos 22 professores presentes, 21 votaram favoravelmente e 1 votou contra:*

*2 – Para além de darem conhecimento imediato deste documento aos órgãos, ainda democráticos, da escola, os professores decidiram dá-lo a conhecer a todos os colegas da escola;

*3 – Decidiram também dar ao documento a maior divulgação pública possível, e enviá-lo directamente para outras escolas e colegas de outras escolas;

*4 – Pede-se a todos os professores que nos ajudem na divulgação deste documento, e que o tomem como incentivo e apoio para outras tomadas de posição;

*5 – Este documento ficou, obviamente, registado em acta, para que a senhora ministra não continue a dizer que nas escolas está tudo calmo, e que só se protesta na rua;

*6 – A introdução e as notas são da minha exclusiva responsabilidade;

*7 – Tomo a liberdade de agradecer com prazer aos professores da Escola Secundária D. Maria II, Braga, e principalmente às mulheres, as mais aguerridas, pelas posições firmes que têm assumido, e por rejeitarem qualquer outro lugar que não seja a linha da frente da luta pela dignidade docente. É um orgulho estar entre vós.

*António Mota*
Escola Secundária D. Maria II, Braga"

8 comentários:

Ramiro Marques disse...

Anabela! Você é muito corajosa e um exemplo.
ramiro

henrique santos disse...

Cara colega
a minha solidariedade e admiração.
Até Amanhã.

Anabela Magalhães disse...

Obrigada, Ramiro, pelas suas palavras de encorajamento e carinho que, por razões óbvias, tenho de retribuir com um enorme afecto e admiração.
Nem sei se sou corajosa, só sei que me recuso a embrutecer, a estupidificar, só sei que me recuso a ver a vida a passar como quem vê passar um comboio. Só sei que quero participar nela e participo, na medida das minhas possibilidades. E tenho-a gozado, oh, se tenho, por ser assim como sou. E sou assim desde que me lembro, desde muito pequena. Mas, sinceramente, não sei sei se isso é coragem.

Anabela Magalhães disse...

Obrigada, Henrique Santos, pelas suas palavras de apoio. Amanhã seremos os forcados, enfrentando os touros enraivecidos, na arena própria, a capital, Lisboa.
Até amanhã.

Luis Pereira disse...

Professora, sabia-a uma pessoa corajosa e determinada,mas tanto ,não! Hoje ja não tenho dúvidas! Muito BOA SORTE para amanhã!Os alunos estão convosco :)

beijos

Luís

Anabela Magalhães disse...

Obrigada, meu querido Luís. Tu, que já não és meu aluno mas foste um dia no 8º e no 9º ano, diz-me:
- Algum dia sentiste que eu não amava profundamente o meu trabalho?
Pois hoje em dia estou profundamente desiludida com a minha profissão. Ainda não perdi o entusiasmo dentro da sala de aula, mas se isto continuar assim temo não aguentar. Sinto-me exausta comtanta palhaçada. Chega. Chega de brincadeiras.

Luis Pereira disse...

Nunca senti, e, pelo menos por este motivo, jamais algum seu aluno o sentirá!

"Together we stand, divided we fall!"

Lembra-se? E assim será...:)

Anabela Magalhães disse...

Obrigada, Luís. O vosso apoio, de alunos e especialmente de ex-alunos, é sem dúvida o mais reconfortante e saboroso. Afinal foi por vocês, pelo trabalho na sala de aula, que eu ingressei na minha profissão. Não me vão reduzir a reunidora, a burocrata, a bafienta, sem tempo para preparar as minhas aulas. Não me vão ocupar com a papelada e as preocupações da minha própria avaliação descurando o meu trabalho com os alunos. Baterei o pé até ao fim. E se no fim tiver de bater com a porta baterei.
E estou de olhos rasos de água.

 
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