quinta-feira, 5 de julho de 2007





Deserto de Wadi Rum - Jordânia
Fotografias de Artur Matias de Magalhães

Wadi Rum - وادي رم

Dei agora conta que estava a ficar sem ar... é que passei muito tempo dentro de água e está na hora de regressar ao meio onde me sinto mesmo como um peixinho dentro de água. Por isso regresso ao deserto, desta vez ao deserto de Wadi Rum, na Jordânia, deserto associado, para sempre, a Sir Lawrence da Arábia e às lutas pela independência do mundo árabe.
Para mim este deserto ficará para sempre associado a uma oportunidade perdida de o sobrevoar a bordo de um ultra-leve. Tudo marcadinho em Aqaba, chegada ao deserto e uma tempestade desgraçada que impedia, naturalmente, qualquer aventura aérea. A reportagem fotográfica que ficou por fazer teria sido de elevada categoria e isto já para não falar da reportagem/experiência vivencial que teria sido certamente inesquecível. Não gosto disto! Fico sempre com um amargo de boca quando coisas destas me acontecem! Mas, gostando ou não, o que é certo é que a experiência ficou adiada para melhores dias.
O deserto de Wadi Rum é um deserto pequeno em extensão e muito diferente do grande Sahara. Aqui não há grandes ergs como em Marrocos, muito menos os há descomunais como na Líbia e também não há mares de areia como na Mauritânia. Fui encontrar um deserto rochoso cortado por grandes canyons, onde ainda habitam nómadas beduínos, para quem a hospitalidade do deserto continua a fazer-se à volta da cerimónia do chá.
A areia continua a ser multicolor indo do quase branco ao vermelho. As formações rochosas perecem rendas trabalhadas nas paredes que se erguem verticalmente em direcção ao céu azul.
Quanto ao céu da noite, impossível descrevê-lo! Não é sequer semelhante às nossas referências para um céu nocturno. É preciso vê-lo para nos comovermos e arrepiarmos...e não estou a falar do frio, que também se sente por aqui, durante a noite.
Dormi neste deserto, numa das tendas acima postadas e aqui rapei o maior frio da minha vida com as temperaturas a cairem muito próximo dos zero graus. Dormi vestida, com reforço de casaco, dentro do meu saco cama fechado até ao pescoço, cabeça o mais possível tapada e protegida daquele frio que se entranhava até à medula! Para de manhã acordar num deserto caloroso e quente onde eu me sinto um escorpião completamente azul e completamente feliz.
Onde eu me sinto um peixinho dentro de água!

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