segunda-feira, 11 de junho de 2007




Dunas - Sahara - Mauritânia
Fotografias de Artur Matias de Magalhães

O meu consultor de viagens super radicais
Algures em meados dos anos noventa, o meu cunhado Agostinho Silveira, um dos directores da Agência Abreu, entregou-me um papel, escrito à mão, com um nome e uns números de telefone.
"Este é outro maluquinho do deserto. Como tu. Se precisares de alguma coisa liga-lhe."
Guardei religiosamente o contacto e não tardou muito liguei ao Nuno Albuquerque, sem o conhecer de lado nenhum. Fiquei tempos infindos a falar com esta personagem desconhecida. Apresentei-me, expliquei-lhe o que me fez telefonar-lhe e falamos do Sahara. Quem esteve no deserto, quem ama o deserto, como eu ou o Nuno Albuquerque, entende do que eu estou a falar, e como é possível manter longas conversas destas com um perfeito desconhecido. A partir daquele dia, passei a ligar-lhe sempre que me surgia alguma dúvida sobre uma pista a percorrer, sobre se uma determinada estrada estava ou não alcatroada... e as conversas eram sempre intermináveis.
Antes de ir para a Líbia liguei-lhe. Foi ele que me falou da Líbia pela primeira vez como um destino de deserto excepcional. Combinámos um encontro em Braga, no Tribuna. Demos coordenadas um ao outro como nos filmes... eu vou de tal forma vestido, eu desta e daquela cor, uso óculos...ah! e Nuno, eu tenho o cabelo cortado, pequenino, como os moços!
Lá nos encontrámos fisicamente, pela primeira vez em tantos anos de conversa, e ele lá me deu todas as dicas sobre a Líbia.
E continuamos as nossas conversas telefónicas dedicadas ao Grande Sahara.
No ano passado recebi uma mensagem do Nuno. Ia partir em finais de Julho para uma grande expedição que ligaria Braga-Luanda. Fiz contas de cabeça...Liguei-lhe "Nuno, tu não me levas na cauda da tua expedição até à Mauritânia ou ao Mali?" Um querido, este Nuno! "É claro que sim. Anabela."
Foi assim que eu integrei, por um dia, esta expedição fantástica que lamento não ter feito na sua totalidade. Aqui deixo a descrição feita pelo Nuno, de parte do dia em que integrei a caravana, tirada do blogue http://bragaluanda2006.blogspot.com/, onde também se pode visualizar a reportagem sobre esta expedição, que passou no noticiário da SIC, em horário nobre. Vivi a aventura das fronteiras marroquina e mauritana com estes rapazes. Assisti ao negócio dos jeeps, jantei num restaurante de coreanos em Nouadibhou, arranquei autocolantes já tarde da noite e colei-os no jeep "novo", dormi na minha tenda, na cobertura plana da casa que servia de apoio a meia dúzia de viajantes que por ali se encontravam acampados. Acordei e a primeira coisa que vi foi um rapaz novo e desconhecido em concentrada meditação... não mexia um pelo!
Ainda havia de encontrar estes rapazes portugueses, ao fim da tarde, em Nouakchott, capital da Mauritânia, depois de fazer uma interminável, escaldante e belíssima estrada, alcatroada, pelo meio do deserto. Acampamos juntos. No dia seguinte foi dizer bye, bye.
O nosso jeep estava agora em muito mau estado! Eu e o Artur haveríamos de chegar a casa de táxi, depois de duas viagens de avião vindos de Agadir.
A expedição haveria de chegar a Luanda em finais de Agosto.
Diário de bordo - 01/08/2006 – Terça-feira

O dia amanhece nublado. Às 9:00h estamos prontos para sair. Aguardamos pela chegada da Anabela e amigos. O dia está nublado. Mas é só em termos meteorológicos, porque o espírito do grupo é óptimo. O jantar da véspera foi, nesse aspecto, excelente. E no gastronómico também.Quando chegam os portugueses tomamos conhecimento que estão com problemas no carro. Estão sem turbo. Põem-nos à vontade para seguimos sem eles. Mas a verdade é que também não podemos andar muito depressa. Eles partem à nossa frente. O carro deles vai deixando uma nuvem de fumo preto. Parece uma locomotiva a vapor. Nambuangongo. Kuritela, Caminho de Ferro de Benguela - é a observação que logo é feita. A estrada que, até há bem pouco tempo tinha que se fazer em coluna militar e estava cheia de buracos, apresenta agora um óptimo tapete em alcatrão. À nossa direita a baía de Dakhla. À esquerda o inalterável deserto. A N23°36.227' W15°52.208' uma pequena povoação. Casas vermelhas. No início, um militar efectua mais um controlo. Sem grandes perguntas, deixa-nos seguir.Voltamos à paisagem do dia anterior. Rectas intermináveis. Deserto e mais deserto. A areia aqui é mais esbranquiçada, num tom ocre claro. Não tem o tom alaranjado e dourado do sul de Marrocos. Lembro-me que tenho de levar um pouco de areia para a Mariana. Não me posso esquecer.Cruzamo-nos com jeep militar que seguia a toda a velocidade. Um Hummer. Este é que era bem trocado por um dos nossos. E chegávamos lá ! - diz o Victor..O Golfo de Sintra e depois Bir Guendous. Abastecemos na última bomba antes da fronteira. Estamos em Cap Barbas. Pagamos 347 DH por 53,4 litros. O preço por litro é de 6,5 DH. Para surpresa minha voltamos a ter rede de telemóvel. Consigo enviar a mensagem que ontem tinha ficado retida no meu PDA a dizer que está tudo bem. Chegamos, às 13:00h à fronteira de Guerguerard. (...)
Mas, no entretanto, ainda havia as formalidades mauritanas para ultrapassar. Primeiro a Gendarmerie. Depois a polícia. E, por fim, a Alfândega. Onde é que eu já ouvi isto ? Não por esta ordem ? «Pás de probléme». O Pedro acompanha-me. Fascinado com os procedimentos. E as instalações das autoridades mauritanas. Uns barracos, no meio do nada, com um ou dois homens dentro de cada um. E a inevitável esteira ao lado. Para a sesta. Toma lá a ficha. Dá cá o carimbo. Porque não pedem o visto aqui ? – pergunta-me o guarda. É mais barato que em Lisboa. - Pois, não sabia… à la prochaine. Inch Alla. (...)

Sem comentários:

 
Creative Commons License This Creative Commons Works 2.5 Portugal License.