sexta-feira, 30 de março de 2007

Caríssimos

Carissimos

Ainda nao negociei a vossa filha! Mas tenho boas noticias. A vossa filha gostou da comida e esta na engorda. Melhor, assim consigo um bom preco!

P. S. Vai sem acentos e cedilhas porque estou num teclado arabe!

Dar Anebar - Fez


Dar Anebar - Fez - Marrocos
Fotografias de Artur Matias de Magalhães

Dar Anebar - Fez

Dar Anebar - Riad transformado em pequeno hotel, familiar e acolhedor. Para dizer a verdade este riad e um verdadeiro pequeno palacio com somente cinco quartos disponiveis. E bom estar de novo aqui, um ano apos a sua abertura, e um ano apos a nossa anterior estadia.
Fez esta como deve estar, esta onde deve estar.
Eu estou onde devo estar.
Aqui sinto-me uma princezinha.

P. S. O post vai sem acentos porque estou num teclado arabe!

quarta-feira, 28 de março de 2007

Adeus ó meus amores que me vou... para outro mundo!!!


Adeus ó meus amores que me vou...


...para outro mundo!!!

Caríssimo


Esforço II - Rio Paiva - Portugal
Fotografia de Clube do Paiva

Caríssimo

Mas tu estás a ver se me demoves?
Olha que um escorpião não se assusta com essa facilidade toda!!!
Tenho feito tudo aquilo a que tenho direito e vou continuar a fazer, meu caro.
Combinados para dia 22 de Abril? Vou remar e remar e remar... a favor da corrente...que é para não cansar tanto. E levo mais dezassete comigo.
E a seguir, vamos andar de parapente?

Avó Luzia


Os meus avós - S. Gonçalo - Amarante
Fotografia de António Carneiro

Avó Luzia

25-9-1933. Casamento dos meus avós paternos Luzia e Rodrigo.

Depois de um namoro atribulado e contrariado, em que a minha avó Luzia foi mesmo exilada pela sua família em Viana do Castelo, não foi possível acabar com a paixão assolapada que tomou conta da minha avó e lhe causou desgostos ao longo de toda a sua vida.
O meu avô era um Don Juan! Provavelmente o homem mais bonito da Amarante do seu tempo tinha fama e proveito de conquistador. Continuo a olhar para esta fotografia e a pensar que a minha avó já adivinhava o que lhe ia sair na rifa! Gostaria de a ter cá e de conversar longamente com ela sobre a sua melancolia num dia que deveria ser de alegria. Afinal ela conseguiu dobrar a família e casar com o homem da sua vida. Gostaria de repetir outras conversas que tivemos, principalmente quando eu estava doente e ela era a minha dama de companhia, sobre a sua paixão pelo meu avô, sobre os desgostos que teve com o seu amor (porque o meu avô não conseguia resistir a um rabo de saia), as suas aventuras de criança e adolescente e até de mulher já feita...sobre o meu pai, a quem ela durante muito tempo não cortou os caracóis cor de trigo ou de oiro (para utilizar expressões suas) porque queria muito ter uma rapariga e teve dois rapazes. E gostaria de lhe dizer que segui os seus conselhos: estudar para ser alguém e para poder ser economicamente independente. Para a minha avó isto era tão importante como comer e beber. A minha avó foi sempre dona de casa, como era usual na época e, como tal, completamente dependente do meu avô. Dizia-me "Como é que eu podia separar-me do seu avô com duas crianças pequenas? Estude. Escolha uma profissão de que goste. Seja independente para poder fazer da sua vida exactamente aquilo que quer. Olhe para o que foi a minha vida!" Só podia seguir os seus conselhos muito embora constate que a minha avó nunca tomaria uma decisão contra o meu avô, mesmo noutras circunstâncias, porque muito simplesmente amou-o até morrer. Apesar dos muitos rabos de saia de que teve conhecimento! Respeito-lhe os sentimentos e gostaria de lhe dizer que também ela foi, provavelmente, a rapariga mais bonita da Amarante do seu tempo. E que tenho saudades de ir dormir a casa dela e de me sentir perdida naquelas camas tão grandes e tão altas, com colchões de folhelho recém mudado, que me faziam pensar em dunas no deserto que eu pensava nunca poder ver. E que tenho pena que ela não me tenha visto casar, e que não tenha conhecido a minha filha, e que não me veja no topo do mundo quando subo às dunas gigantescas com que sonhava em criança.

Nota - Acabei agora mesmo de acrescentar a data de casamento dos meus avós e tomei consciência, pela primeira vez na minha vida, que casei um dia antes! O que fez toda a diferença! Vou pensar nisto.

terça-feira, 27 de março de 2007

Ainda Petra


Al-Deir - O Mosteiro - Petra - Jordânia
Fotografia de Artur Matias de Magalhães

Ainda Petra

Situemo-nos. Estamos na parte alta de Petra. E perante os nossos olhos O Mosteiro.
Acrescentei-o agora ao blogue porque me estava a fazer falta.
Aqui estamos no topo do mundo, o calor é infernal, mas nós sentimo-nos no paraíso!!

segunda-feira, 26 de março de 2007

Kaiser Chiefs Lyrics

KAISER CHIEFS LYRICS
"Everyday I Love You Less And Less"
Everyday I love you less and less
It's clear to see that you've become obsessed
I've got to get this message to the press
That everyday I love you less and less
And everyday I love you less and less
I've got to get this feeling off my chest
The Doctor says all I needs pills and rest
Since everyday I love you less and less
Unless, unless
I know, I feel it in my bones
I'm sick, I'm tired of staying in control
Oh yes, I feel a rat upon a wheel
i've got to know what's not and what's real
Oh yes I'm stressed, I'm sorry I digressed
Impressed you're dressed to SOS
Oh, and my parents love me
Oh, and my girlfriend loves me
Everyday I love you less and less
I can't believe once you and me did sex
It makes me sick to think of you undressed
Since everyday I love you less and less
And everyday I love you less and less
You're turning into something I detest
And everybody says that your a mess
Since everyday I love you less and less
Unless, unless
I know, I feel it in my bones
I'm sick, I'm tired of staying in control
Oh yes, I feel a rat upon a wheel
I've got to know what's not and what is real
Oh yes I'm stressed,
I'm sorry I digressed
Impressed you're dressed to SOS
Oh, and my parents love me
Oh, and my girlfriend loves me
Oh, they keep photos of me
Oh, thats enough love for me
Oh, and my parents love me
Oh, and my girlfriend loves me
Oh, they keep photos of me
Oh, thats enough love for me
[Thanks to danny_iz_wikid@hotmail.co.uk for these lyrics][Thanks to macbeef@kindeace.plus.com, sowhy@sowhy.de for correcting these lyrics][ http://www.azlyrics.com/ ]

Música e Concertos


Bilhete - Concerto - U2
Vertigo//2005 - Alvalade

Bilhete - Concerto - Prince
Prince & The New Power Generation: ACT II - Alvalade

Música e Concertos

A minha relação com a música iniciou-se aí pelos doze anos, mais ao menos pelo tempo em que experimentava o primeiro cigarro. Portugal acabava de sair de um longo período de ditadura, de um longo período de estupidificação, fossilização e estagnação. Experimentávamos as primeiras coca-colas, até aí proibidas, e ouvíamos os primeiros discos de vinil, de rock e de música pop. Durante a adolescência abrimos as nossas mentes a outras sonoridades. Disco, jazz, godspell... e eis que explodiu o punk. O movimento punk foi uma verdadeira cultura de contestação e eu adorei a sua sonoridade. Nomes como os Sex Pistols ou Nina Hagen eram para nós uma revelação e uma fonte de inspiração.
Assisti ao primeiro concerto no Porto. Iniciei-me com os Dexys Midnight Runners e a minha iniciação não podia ter corrido melhor. Junto ao gradeamento saltei, gritei e dancei ao som daqueles saxofones frenéticos, ao som de Geno. Falhei o concerto de Nina Hagen e de Ian Dury e ainda hoje me arrependo. Casei e fui mãe. E andei ocupada com outras vidas, ao som de outras músicas e de outras sonoridades. Quando a Joana tinha três anos começou a ir, comigo e com o pai, aos concertos. GNR, já com o Rui Reininho, espectacular em palco, Rui Veloso, nos seus tempos áureos, Chutos e Pontapés. Ainda hoje gozo com a Joana que adormeceu ao som dos Chutos, para aí dos Contentores, adeus ó meus amores... que me vou... para outro mundo!!!
Em Alvalade, saudoso estádio de Alvalade, dançamos ao som do meia leca "Sexy M. F." do Prince.
E chorámos de emoção, perante um estádio repleto. Setenta mil pessoas, em silêncio, a ouvirem Bono e os restantes U2. Setenta mil pessoas que por vezes explodiam em cantorias inenarráveis segundo as provocações de Bono. Bono conseguiu a proeza de pôr setenta mil pessoas muito próximas do histerismo! Eu estava lá e vi. Vi o concerto mais memorável da minha vida, integrado na tour "Pop".
Em 2005 não podia faltar de novo à chamada "Vertigo", agora no novo estádio José Alvalade. Tenho que abrir um parêntesis para informar que o novo estádio do Sporting é um vómito, um escarro. Para mim, que adoro arquitectura, foi um murro no estômago ver semelhante piroseira. Senti mesmo naúseas e tive vontade de vomitar. Felizmente as pessoas foram enchendo o estádio e taparam aquele colorido pimbalhão que me deu volta ao estômago e me fez mal à cabeça.

Fui brindada por um grupo que eu não conhecia. Kaiser Chiefs.


Adorei esta sonoridade punk-rock revisitada, e dancei, e cantei ao som de Everyday I Love You Less & Less. (Oferta do clip na hiperligação acima transcrita e oferta da letra no próximo post.)
E revi o Grande Bono e os restantes rapazes. Muito bom.
E em 2006 fui ver um grupo de dinossauros em palco.
Rolling Stones ao vivo e a cores no Estádio do Dragão e um Mick Jagger imparável em cima do palco. Surpreenderam-me pela positiva.
Gostaria de estar como eles aos sessenta anos. Imparável.

domingo, 25 de março de 2007

Andrew Bird - Dica

Andrew Bird - Dica

Uma dica para os meus leitores. Visitem o site de vídeos de concertos ao vivo http://www.fabchannel.com/ e procurem Andrew Bird. Escolham a música A nervous tic motion of the head to the left do álbum The Mysterious Production Of Eggs. Se a casa aguentar, ponham a música alto, assobiem, cantem, marquem o ritmo com as mãos ou os pés, dancem, apreciem as imagens e a simplicidade de dois músicos escorreitos, gloriosos, num concerto ao vivo onde eu gostaria de ter estado! E depois passem para Skin is, My.
Gravem nos favoritos e depois continuem a exploração do site. Hoje, amanhã, depois.
Divirtam-se.

Perdida numa tenda T2


Home - Acampamento - Ghat - Líbia
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

Perdida numa tenda T2

Líbia, 2004 - Primeira noite de acampamento em pleno deserto, algures nos arredores de Ghat.

Grande excitação pela noite dentro. O Zé não sabe onde dormir. Esperneia, esbraceja, fala alto. Não deixa a Salomé dormir. Não deixa ninguém dormir! A Raquel tem medo dos bichos e salta de tenda em tenda, mudando de companhia, entre homens e mulheres que ela mal conhece, até se sentir segura entre a Paula Coutinho e o Eugénio. A Valéria dorme fechada na tenda, toda coberta de roupa, onde eu sufocaria. Eu, o Artur e a Joana dormimos ao relento, num contacto íntimo com o deserto. A Mel está na tenda, mesmo ao meu lado. Penso que dorme.
Noite dentro acordo assarapantada com gritos lancinantes "Anabeeeeela, Anabeeeeela! Ajuda-me! Não consigo sair da tenda." O grito já tinha esmorecido na sua garganta e tinha-se transformado numa quase constatação angustiada. Ergui-me num ápice. Abri a tenda mesmo ao meu lado. A "porta" estava somente encostada. O que se passaria?
Deparo-me com um espectáculo inesperado. A Mel completamente perdida numa tenda T2!
E para quem não faz ideia do espaço duma tenda T2, passo a esclarecer que cabem dois colchões individuais, bem encostadinhos. Ao fundo duas mochilas pequenas. E é tudo!
O espectáculo é de facto inesperado. A Mel está de gatas, ao fundo da tenda, de rabo voltado para a entrada, às apalpadelas desesperadas tentando encontrar a saída de um espaço que, de repente, se tornou demasiado grande... ou demasiado pequeno.
Salvei-a e ainda hoje ela fala disso.

Por isso eu sei que é possível perdermo-nos dentro de uma tenda T2.
Sei até que é possível perdermo-nos dentro de nós.
Mas também sabes que estás em segurança com esta tia por perto. Acudir-te-ei sempre, mesmo que não grites por mim.

sábado, 24 de março de 2007

Adelaide


Nós - Amarante
Fotografia de não sei quem

Adelaide

Fui apanhada de supetão. O Carlos ligou-me um dia destes a dizer que a Lailai faz 50 anos. A Lailai é a mais velha de nós todos. Disse-lhe "Espera! Deixa-me sentar... a Adelaide faz quantos anos?!!!" O Carlos riu-se. "Sim, faz mesmo 50."
Fiquei chocada! O tempo passa a voar e só em alturas marcantes como esta temos plena consciência deste facto. E todos nós, nos próximos tempos, faremos igualmente 50 anos. Pelo menos o tempo é verdadeiramente democrático! Disse ao Carlos "Mas diz-lhe, ninguém lhe dá mais de trinta!"
De facto a Adelaide é uma cinquentona de bem com a vida. Um marido que a adora. Ela fascinada pelo marido! Duas filhas sem problemas. Um pai que a admira (vê-se no brilho dos seus olhos babados a olhar para ela). Trabalho q. b. Amigos verdadeiros. Saúde, não esquecer a saúde. Algum dinheirito no bolso. Felicidade!
Sei que a vou encontrar hoje radiante e esplendorosa. E tranquila!
E por ela vou pintar as minhas unhas de transparente, que é o máximo até onde consigo ir, vestir o meu calça e casaco preto, que com preto nunca me comprometo, calçar o meu sapatinho de tacão alto, que eu abomino, pintar-me, ajeitar-me, para poder chegar ao pé dela e pregar-lhe um grande beijão de verdadeira amizade e admiração pelo que ela foi, pelo que ela é, pelo que ela vai ser!
Parabéns Adelaide!

sexta-feira, 23 de março de 2007

Estrada do Petróleo - Jordânia
Fotografia de Artur Matias de Magalhães

Mistura

Quem não sai da sua concha, quem não sai do seu casulo, quem não se mistura, nunca poderá saber como foi. E nunca poderá enriquecer-se.

Mensagem de Esperança

Mensagem de Esperança

Início de férias de Páscoa para os alunos. Para nós, professores, inicia-se agora um período menos barulhento e mais introspectivo. Ponderamos avaliações, lançamos as notas provisórias, reunimos, decidimos. Pondero as notas dos meus alunos até ao fim. Avaliar é complicado e não quero ser injusta com ninguém.
Os períodos de interrupção lectiva, de maior acalmia, são imprescindíveis para os professores recarregarem baterias e virem renovados de alma e coração. Só quem é professor sabe a energia que se gasta, em 90 minutos de aula, com uma turma. Mesmo que essa turma seja constituída por alunos atentos, interessados e bem educados. E ele há turmas e turmas!!! Por vezes saímos da sala de aula extenuados, exaustos. Nesse caso a sala de aulas foi para nós uma arena. Atentos ao mínimo sinal de perigo, parabólicas ligadas e apontadas em todas as direcções, atentos a todos os gestos, a todos os movimentos, a todas as palavras. A sala de aula é um local onde tem que imperar a boa educação.
Os professores estão cansados e acima de tudo preocupados com o seu futuro. E por isso ainda mais cansados. E por isso ainda mais preocupados.
Eu confesso que estou preocupada. Acabaram os Quadros de Escola. Acabaram os Quadros de Zona. Se um lugar de professor se extingue, e desaparece de um ano para o outro, nenhum professor está a salvo. Pode sair o mais velho, o mais novo, o coxo, o incómodo, o loiro... o Ministério da Educação encarregou-se de frisar muito bem que os critérios de selecção são LIVRES!
Ora se nós estivéssemos num país decente lógico seria que todos os directivos, de todas as escolas, se pautassem por critérios de qualidade. Mas estamos? Estamos num país decente? Não haverá a tentação de ficar com os amigos, com os que dizem sempre amém e nunca levantam problemas, com os do mesmo partido, os da mesma cor política? Estamos num país decente?
Confesso que estou preocupada. Mas não excessivamente. Afinal de contas passei os primeiros quinze anos da minha vida profissional a saltar de escola em escola. Todos os anos numa escola diferente. Tenho uma grande ginástica profissional e consigo adaptar-me a qualquer escola. E ainda salto, ainda sou capaz de saltar. Por vontade própria ou obrigada. É evidente que se o salto for tão grande que faça perigar a minha estabilidade familiar e emocional só há uma atitude possível. Cortar de vez com a profissão que eu escolhi e adoro.

Espero estar enganada relativamente ao meu país. Espero que a qualidade se imponha e que sejam banidos os que não fazem falta nenhuma ao sistema. É uma oportunidade rara!

Espero.

quinta-feira, 22 de março de 2007

Moucharabieh



Moucharabieh - Instituto do Mundo Árabe - Paris
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

Moucharabieh

"Regardez:
de ses terrasses, de ses fenêtres,
sont suspendus des colliers dont la matière est façonée
par une lune de sagesse
un soleil de désir
et une terre d`amitié.
Sont suspendus aussi les grappes de la connaissance..."

Adonis, Paris 1997, traduit par Anne Wade Minkowski, extrait de Commune maison écrit pour les 10 ans de l`IMA.

Institut du Monde Arabe


Instituto do Mundo Árabe - Paris
Fotografia de Artur Matias de Magalhães

Institut du Monde Arabe

O Instituto do Mundo Árabe, familiarmente conhecido por IMA, é aquilo a que eu chamo "arquitectura inteligente". O seu arquitecto, Jean Nouvel, ganhou o concurso para a sua construção em 1981. Felizmente foi construído e lá permanece, em Paris, nas margens do Sena, integradíssimo numa cidade mais velha, e com a qual se funde maravilhosamente.
Vi pela primeira vez este edifício numa revista folheada ao acaso, algures pela década de oitenta, e fiquei fascinada. Aço, vidro, mármore. A geometrização é uma constante de todo o edifício. As paredes movem-se em lâminas que abrem e fecham controlando a entrada da luz solar. Lembra-nos imediatamente os "moucharabieh" que existem por todo o mundo árabe, que permitem arrefecer o interior das casas e ver sem ser visto. O edifício possui uma torre central inspirada nos minaretes que existem em todas as mesquitas e tem ainda uma "floresta de colunas", ou sala hipóstila, correspondente à sala de orações muçulmana.
Felizmente só visitei Paris, e consequentemente o IMA, depois de muitas aproximações a muitos mundos árabes. Felizmente, porque só assim pude compreender a extraordinária sensibilidade, o extraordinário respeito deste arquitecto francês face a uma cultura que não é a dele.
Por isso o IMA faz parte daquilo a que eu chamo "arquitectura inteligente". Foi o primeiro monumento visitado em Paris.
A Torre Eiffel ainda vai ter que esperar.

quarta-feira, 21 de março de 2007

Irrealidade


Irrealidade - Petra - Jordânia
Fotografia de Artur Matias de Magalhães

Túmulo da Seda ou Túmulo do Arco Íris



Túmulo da Seda - Petra - Jordânia
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães

Túmulo da Seda ou Túmulo do Arco Íris

Sem margem para dúvidas. De tudo o que vi em Petra, tudo excepcional, este é o meu túmulo preferido. Formas simples com incríveis nuances. Do cinza ao azul, do rosa ao ferrugem, do beige ao castanho... cores inacreditavelmente naturaise surreais.
Apetece tocar e afagar a pedra, encostar a cara à pedra macia e quente, apetece lamber as rochas para saborear isto e nos certificarmos que isto, isto é real!
Este podia ser o meu túmulo.

Al Khazned Farum ou o Tesouro do Faraó


Al Khazned Farum- Petra - Jordânia
Fotografia de Artur Matias de Magalhães

Al Khazned Farum ou O Tesouro do Faraó

Este é o monumento que ficou super popularizado por Indiana Jones num dos vários filmes da série com o mesmo nome. Indiana Jones chegava aqui montado no seu veloz cavalo. Eu cheguei aqui a pé, depois de percorrer demoradamente o Siq, ou seja, o desfiladeiro de vários quilómetros que dá acesso à cidade proibida, escondida, à cidade dos mortos. Pois é disso que se trata. Cheguei aqui absorvendo cada cambiante de cor, cada cambiante de forma, cada cambiante de textura, cada cambiante de luz e de sombra. As coisas excepcionais são para se saborear muito devagar.
Petra actual é uma falsa cidade. Quase tudo o que resta são túmulos. Uns monumentais pelas formas ou pelas dimensões, outros monumentais pelo minimalismo e pelas cores que são incríveis e inacreditáveis.
O Tesouro, provavelmente da época do rei Aretas I, de 84-85 a.C., é um dos monumentos melhor conservados de Petra. E um dos mais monumentais pelas formas e dimensões. Encontra-se mesmo à saída do Siq, num lugar protegido das intempéries e, durante muitos séculos, protegido dos estranhos. Era um segredo bem guardado dos beduínos locais.
A fachada mede quase 40 metros de altura e foi integralmente esculpido na parede do desfiladeiro. E as pessoas são pontos insignificantes perante tal monumentalidade.
Subimos até ao alto do desfiladeiro para vermos o Mosteiro, outro túmulo monumental de Petra. Subimos, montados em burros, centenas de degraus manhosos e rampas íngremes de causar arrepios. A subida é vertiginosa...e perigosa. Logo o meu burro tinha que se esbarrar contra uma parede! E eu também, que "estraguei" uma perna! Mas a subida continuou...com vertigens e calafrios. Pura adrenalina!
Et voilá!.. Al-Deir, o Mosteiro, vale cada degrau que se sobe. É o maior monumento de Petra e é também o melhor conservado. E o espanto continua. E continua. Até à exaustão.
O reino de Petra foi anexado no ano de 106 d. C. pelos romanos.
E lá se foram os Nabateus!

Ainda a propósito dos Escorpiões

Ainda a propósito dos escorpiões

Andei em arrumações aqui em casa e, nem de propósito, encontrei um cartaz que a Joana ofereceu ao pai aí pelos anos oitenta. É sobre os indivíduos que pertencem ao signo Escorpião, e fazem anos entre 23 de Outubro e 21 de Novembro.

ESCORPIÃO

"Donos de um invejável domínio de personalidade. São valentes diante de todo o tipo de situações e sentem uma grande confiança para superar as dificuldades. Possuem um marcado sentido de família e de amor. São ternos com as crianças e protectores dos desfavorecidos.
Possuem um apuradíssimo espírito crítico, mostrando um sentido intenso de lealdade pelos amigos. Não têm termo médio. Ou querem ou rejeitam, mas todos os respeitam.
A verdade, a verdade?...São irresistíveis com os seus olhos penetrantes (o truque é reagir a tempo, mas às vezes merece a pena não reagir). Cuidado!!Quando picam UAAUUUU se dói!!!"

terça-feira, 20 de março de 2007

A Vida


Escorpião Azul/ A vida - Espanha
Fotografia de Artur Matias de Magalhães

A Vida

Três rectas
Apontando o infinito.
Turbilhão constante
De pensamentos inacabados. Solidão, magia,
E o desfiar maravilhoso de uma melodia.
Princípio e fim
Das coisas inatingíveis.
Sonho profético
De castelos a desabar.
Um, dois, um, dois,
Quando bate três
Chegaste ao fim,
Foste vida.

Porto, 17/1/77

Tu és bruxo, Artur?

Azul


Azul - Essaouira - Marrocos
Fotografia de Artur Matias de Magalhães

Azul

O azul, com todos os seus cambiantes, é uma das minhas cores favoritas.
É a cor do céu, do mar e das minhas calças de ganga. Já experimentei saudades das minhas calças de ganga. Durante a minha gravidez, usei-as até ao quinto mês. Durante o sexto disse-lhes bye bye e fiz um interregno no seu uso. A minha barriga estava como uma melancia e eu sem conseguir entrar nas minhas calças de ganga! Fiz a mala para a saída da casa de saúde, para depois do parto. Meti lá as minhas calças de ganga. Pobre inocente que teve que sair com a roupa com que entrou! Afinal a barriga ainda estava lá. Afinal não era imediato. Afinal não era Joana nascida barriga vazia. Afinal a barriga ainda estava lá. E lá tive que esperar mais oito dias para que, com esforço, conseguisse matar saudades das minhas calças de ganga e entrasse no azul!

Eu e a Rapaziada


Nouâdhibou - Mauritânia
Fotografia de Artur Matias de Magalhães

Eu e a Rapaziada

Sempre fui uma maria rapaz desde miúda. Cresci a ouvir a minha mãe dizer que eu e o meu irmão nascemos com o sexo trocado. Eu deveria ser o rapaz lá de casa.
Sempre fui, por temperamento, destemida, corajosa, inventiva, lutadora, irrequieta, aventureira. Deveria ser um rapaz!
Cresci entre correrias, brincadeiras de índios e cowboys, cavalgadas nas videiras do meu avô Rodrigo, corridas sobre os cedros da florestal, corridas de sameiras, corridas sobre carros de guias pela rua da Cadeia abaixo num tempo em que passava um carro quando o rei fazia anos. Cresci entre cabeças rachadas e braços estalados e idas ao hospital. Cresci nadando entre os peixes, o lodo e as cobras do rio. Cresci a apanhar rãs e girinos nos charcos, a incendiar ninhos de vespas e a fugir a sete pés... às vezes sem êxito! Cresci entre as matanças do matadouro, a ver matar carneiros e porcos, a ver matar bois, os meus preferidos. O sangue jorrava qual nascente, quente e vermelho, a vida do animal, pendurado de cabeça para baixo, a esvair-se, por acção do facalhão do matador gordo e disforme. Era uma visão imponente. A minha mãe não gostava que eu fosse para lá e dizia-me que não era lugar para uma menina. A verdade é que eu, sempre que podia, escapulia-me para lá e ia buscar morcões para o meu pai ir à pesca. Fui crescendo a odiar as prendas que me davam. Bonecas, roupas, tachos e panelas! Eu queria as prendas do meu irmão. Naves espaciais, carrinhos telecomandados, bolas, ferramentas.
Cresci. Continuei uma rapariga entre rapazes. Os meus melhores amigos sempre foram rapazes. As minhas companhias sempre foram rapazes. Naqueles tempos só eles saíam até tarde. Eles e eu. Nas férias as raparigas recolhiam pelas onze horas. Depois ficavam eles e eu. Dançávamos até de madrugada. Comprávamos pão quente na padaria do Arquinho. Sentávamo-nos na meia laranja da Ponte Velha, barrávamos o pão com manteiga e comíamos sofregamente. E conversávamos. Conversávamos sem horários e sem grandes preocupações. Dos nossos projectos, dos nossos amores e até dos nossos desamores. A vida era bela e nós tínhamos dezasseis, dezassete, dezoito anos.
Cresci ainda mais. E cortei o cabelo com pente dois. Lá se foram os meus longos cabelos num abrir e fechar de olhos. Senti-me aliviada. Passei as minhas mãos sobre a minha cabeça. Os cabelos pequenos souberam-me bem entre os dedos. Tinha trinta anos e invejava o corte de cabelo dos rapazes desde miúda. Agora podia furar as ondas do mar e sair da água penteada sem os cabelos colados pelo rosto a incomodarem-me.
Hoje continuo a sentir-me particularmente bem entre rapazes. Continuamos a ter conversas pela madrugada dentro sobre os nossos projectos, sobre viagens que ainda não fizemos mas vamos fazer, sobre a arquitectura de que gostamos, sobre os museus que visitámos e as exposições que vimos e o que nos falta ver. Continuo sem paciência para conversas de cabeleireiras, de manicuras, de cortinados, de bordados, de croché, de limpezas de Páscoa, de limpezas de pele, de telenovelas.
A fotografia que ilustra este post sou eu, em Nouâdhibou, entre a rapaziada da expedição Braga-Luanda, realizada no Verão de 2006.
Sou um peixinho dentro de água. Sou uma entre iguais.

segunda-feira, 19 de março de 2007

Mar/Deserto


Mar/Deserto - Sahara Ocidental
Fotografia de Artur Matias de Magalhães

Helder Colmonero - O Meu Amigo Radical


Esforço - Rio Paiva - Portugal
Fotografia de Clube do Paiva

Helder Colmonero - O Meu Amigo Radical

O Helder Colmonero telefonou-me. Falamos todas as semanas desde que nos conhecemos. Ou ele me telefona ou eu lhe telefono a ele. As idas ao deserto por vezes trazem presentes suplementares, especiais e inesperados - Amigos. Amigos que ficam para a vida.
Conheci o Helder através do Sahel, no Verão de 2004. O Sahel veio passar férias a Amarante e ficou em minha casa. E, enquanto eu fui de férias, o Líbio ficou no Porto, em casa do Helder. Por isso o Helder veio buscá-lo aqui a Amarante e o nosso ponto de encontro foi o Café Bar, em S. Gonçalo. Foi a primeira vez que o vi e que falei com ele muito embora já soubesse da sua ida ao deserto da Líbia, mesmo a seguir a nós mas cumprindo um Porto-Líbia e Líbia-Porto de mota.
Acho que a empatia entre nós foi imediata. A conversa foi fácil e despedimo-nos como se fossemos velhos amigos e quando organizei o jantar de despedida do Sahel, aqui mesmo em Amarante, o Helder disse presente e o meu cara metade e ele chegaram à conclusão que tinham sido colegas de turma, no liceu D. Manuel, no Porto. E a empatia entre os dois também foi imediata.
De todos os meus amigos, o mais radical é sem dúvida o Helder Colmonero. Já foi para a Líbia de mota. Já se perdeu nos Himalaias. Já subiu o Níger de barco. Já fugiu à polícia na Guatemala. Já entrou em desespero em Moçambique. Já foi a Tombuctu. Já foi a Teerão e arredores...  e é o único que, ao despedir-se de mim, diz sempre "Pronto, dá lá também um beijinho ao Artur."
Um dia destes disse-me para ir ao mail que me tinha enviado umas fotografias só para me meter raiva. Uma delas foi esta que agora publico neste blogue e ele está por ali, algure,s em luta com o Paiva.
Mas tu espera por mim, Helder, porque eu também sou menina para descer o Paiva a remar...

Barca


Barca - Carvalho de Rei - Aboboreira
Fotografia de Artur Matias de Magalhães

domingo, 18 de março de 2007

Muros I


Muros - Barca - Aboboreira - Amarante
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães
 
Muros
 
Detesto coisas inacabadas.
Os muros da Barca estavam todos por acabar o que lhes dava uma aparência muito descuidada, abandonada até. Para além disso, estavam sujos com silvados que mais pareciam de estimação. Os muros até se apagam e ficam imperceptíveis por detrás de tanto lixo.
Meti mãos à obra no ano passado. Depois de uma primeira limpeza é preciso tirar toda a terra até à última pedra, que tanto pode estar a vinte centímetros do campo de cima, como a metro e meio. A seguir é preciso fazer a cama para as pedras, catá-las pela propriedade, transportá-las de carreta em punho e colocá-las no seu leito. Bem colocadas, senão não passam o primeiro Inverno.
O muro que hoje fotografei já passou o primeiro Inverno e está sólido. Um muro pode ser uma coisa extraordinária. Pelas formas, pelas texturas, pela vida que brota de dentro dele.
Depois de limpos e terminados os muros revelam-se tal qual são. Os muros, depois de terminados, ficam fotogénicos.
Não sei quem começou os meus muros. Mas sei quem os vai acabar. Todos. Um por um.
Porque adoro muros. Adoro muros porque se podem contornar. Ou saltar.
João Pedro

Ontem tive que ir a casa da Rosinha, a Fregim.
Abriu-me a porta o João Pedro. Deu-me a sessão de beijos do costume.
Conheço o João Pedro desde que nasceu. O João Pedro desde que aprendeu a dar beijos passou a treinar esta competência na minha pessoa e, sempre que me encontra, passa os seus braços em meu redor, mergulha os seus lábios nas minhas bochechas, ou no meu pescoço, e dá-me dezenas de beijos. Beijos fofinhos. E é assim desde sempre. O João Pedro tem agora catorze anos e continua a fazer o mesmo. Já lhe disse que a continuar assim ainda vamos ter problemas! Ele ri-se.
Depois dos beijos disse-me que vai todos os dias ao meu blogue. "E gostas?" "Gosto muito!" Riu-se com um riso matreiro. "Com que então começaste a fumar aos doze anos?" "E com quantos ganhei juízo?" Riu-se ainda mais. "Com vinte e cinco!"
Entrámos em casa. O Pedro pai andava atarefado às voltas com uma tomada. "O meu filho agora não faz outra coisa senão ir ao teu blogue!"
Não fazia ideia que o meu blogue fosse seguido atentamente por este meu amigo em crescimento acelarado. O João Pedro é um adolescente com muita sorte. Tem a sorte de ter um bom pai e uma boa mãe. Que sempre o acompanharam e acompanharão. E que lhe sabem dizer não quando é preciso dizer não. Daí o resultado. O João Pedro é um primor de educação. E é sensível, atento, calmo, muito meiguinho e fofinho. E sabe lutar e argumentar pelo seu ponto de vista.
Eu gosto de gente assim.
Vai saber crescer sem se meter em confusões. E se eu o puder ajudar a crescer, também através do meu blogue, muito me agrada.
E daqui a vinte anos, quando ele tiver trinta e quatro e eu já tiver sessenta e cinco, ainda me vai dar beijos fofinhos no meu pescoço cheiroso.

sexta-feira, 16 de março de 2007

Sahel


Sahel e as Minhotas - Serra de Arga - Portugal
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

Sahel

Quarta vez. Desta vez o líbio telefonou-me de Paris. Está lá em trabalho.
Perguntei-lhe se estava "dans l`Institut du Monde Arabe".
Respondeu-me com umas sonoras gargalhadas. Como só ele as sabe dar.
As gargalhadas do Sahel são as únicas gargalhadas que se eu tivesse que classificar meteria na categoria das gargalhadas sexys. Adoro ouvi-lo rir!
Disse-lhe para vir a Amarante. Que a minha casa é como se fosse a dele. Respondeu-me que não pois tem que voltar para Sebha, uma cidadezinha perdida algures no deserto, no sul da Líbia.
Mas diz-me sempre que tem saudades de Portugal. Da Serra do Marão e da Aboboreira. Dos rios. Da chuva. Do nevoeiro.
Aproveitei para lhe pedir para me deixar postar uma fotografia dele no meu blog ao que ele respondeu de imediato "Pas de problème!".
E por isso postei o Sahel no meu blogue, no meio do mulherio minhoto.
Foi um dia feliz este. Almoço para comemorar o fim da "Arte na Leira", um espaço de exposições alternativo, na Serra de Arga, em pleno Minho. E eu de dedo esticado sobre uma mesa imensa, a apontar as comidas e a dizer ao Sahel "Podes comer isto. Os enchidos têm carne de porco, não podes comer. Não podes comer aquilo!".
É que o Sahel, para além de líbio, é um muçulmano praticante e sério. Daqueles que não bebem álcool e que não comem carne de porco. Daqueles que rezam cinco vezes ao dia.
A primeira pergunta que fez quando entrou em minha casa foi "Onde nasce o Sol?"
E a imagem do Sahel a rezar, recatado e um pouco afastado de nós, no deserto, debaixo de um sol arrasador, está cravada na minha memória e é comovente.
Gostava de ter uma fé assim.
O Sahel é uma mistura explosiva nos dias que correm: líbio, muçulmano, negro. Mas também é uma pessoa sensível, educada, cuidadosa... parece que quer casar e ter filhos... parece que quer ter uma vida feliz.
Afinal, como qualquer um de nós...

Escorpiões e o Respeito pelos Outros



Escorpiões Tunisino e Líbio
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães

Escorpiões e o Respeito pelos Outros

Somos três escorpiões cá em casa. Ok. Afinal não. Somos cinco, contando com os dois das fotografias que estão, evidentemente, mortos. Estes dois últimos são os mais sossegados e silenciosos...os preferidos do Artur e da Joana! Estou a brincar. Mas de facto sou eu que destabilizo um bocado a casa, e corto o que os dois últimos adoram. Corto o silêncio. Embora também o adore. E necessite dele como da água que bebo. Os dois últimos são muito parecidos. Leais, amigos do seu amigo, muito estudiosos e trabalhadores, discretos, silenciosos, cúmplices, fiéis, independentes, determinados, amorosos. O mais velho é do sexo masculino. A outra é mesmo feminina...e fofinha. Um escorpião também pode ser "fofinha". Um escorpião também pode ser uma boneca!
A terceira sou eu mas agora não me apetece falar de mim.
O quarto é o escorpião branco. Tunisino.
O quinto é o escorpião preto. Líbio.
Todos temos em comum o prezarmos muito a nossa independência e o facto de demarcarmos o nosso território. Convém que nenhum de nós se aventure em excesso no território dos outros. A isto chama-se respeito. Um escorpião é por necessidade um respeitador dos outros. E por uma razão muito simples. Quer ser ele próprio respeitado. Quando o chateiam até à exaustão, o escorpião corta a direito, corta rente e às vezes para sempre. Arruma o indivíduo. Põe-no KO.
Os dois escorpiões das fotografias também têm territórios delimitados. Dentro da minha mesa da cozinha. Cada um tem o seu território. O tunisino sobre areia branca do seu país natal. O líbio sobre areia marroquina, para variar. Os dois com territórios bem definidos e demarcados.
Os outros três também.
E assim permanecemos tranquilos e em paz.

quinta-feira, 15 de março de 2007

Desafio Aceite

Desafio Aceite

Tive aulas com a minha turma do 8º F. Alguns alunos comentaram comigo que entraram e navegaram no meu blogue. E que gostaram. E que ainda não fizeram comentários porque tinham muitos testes. Não é o caso de História. Teste feito, corrigido e entregue. Teste feito com os meus alunos fresquinhos para darem o seu melhor. E sei que alguns dão. E eles sabem que eu sei.
Desafiaram-me. E eu adoro desafios.
Propuseram-me fazermos um blogue conjunto, em que cada um deles tenha a palavra passe e possa "postar" o que lhe vai na alma. Para podermos comunicar extra aula de História, onde estamos pressionados por um programa a cumprir, que não foi alterado, nem mesmo quando passámos de três tempos semanais de cinquenta minutos, do sétimo ao nono ano, para um tempo de noventa minutos semanais no sétimo ano, e cento e trinta e cinco minutos semanais no oitavo e no nono. O Ministério da Educação tem destas coisas!

Já agora um esclarecimento. Este blogue "Anabela Magalhães" não pretende ser um espaço da professora de História, Anabela Magalhães, que vos saiu na rifa no ano lectivo anterior. Posso roçar a História, como no post "Até à Eternidade" mas não mais que isso. Este espaço é de reflexão, intimista e de crescimento interior. A professora de História fica dentro da sala de aula, ou fora, mas no seu espaço lectivo e agora também não lectivo, na ESA. É evidente que o meu trabalho como professora continua em casa, no meu escritório. O melhor local para trabalhar. E quando saio e tiro fotografias e recolho informações a pensar nas minhas aulas.
Preparo cuidadosamente as minhas aulas. E quando digo cuidadosamente é cuidadosamente. E sei que os meus alunos reparam nisso. Tudo o que eu quero é não ser uma seca para os meus alunos. Eu também já fui aluna e apanhei secas monumentais dadas por alguns dos meus professores. E outras aulas eram... como dizer?... um prazer, um gozo, um tempo de alegria! E, consequentemente, de aprendizagem. Tenho a ambição de conseguir dar aulas assim. Tenho a ambição de fazer diferente. E continuo a mudar de estratégias à procura do clic que faz a diferença. A aula que vos dei, quase completamente afónica, correu tão bem, que no final o Pedro comentou "A professora tem que vir mais vezes afónica para a escola!" Fiquei apaziguada.
Este blogue é a pessoa que eu sou, as minhas múltiplas facetas, as minhas contradições, os meus medos, a minha coragem de errar.

E é por querer que o nosso relacionamento cresça extra sala de aula que resolvi aceitar o repto que me lançaram na última quarta-feira. E enquanto isso treinamos o nosso português... fundamental em História.
Vamos lá fazer a experiência de dar à luz um blogue. Em grupo. A começar na próxima semana.

quarta-feira, 14 de março de 2007

Sapatinhos Versáteis


Sapatinhos Versáteis
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães

Sapatinhos Versáteis

Sou como os meus sapatinhos. Versátil.
Professora de História ou camponesa? Mãe ou aventureira? Esposa ou filha? Amiga ou confessora? Novaiorquina ou amarantina? Vanguardista ou obsoleta? Criativa ou assimiladora? Conhecedora ou ignorante? Pintora ou fotógrafa? Costureira ou calceteira? Professora de Português ou coleccionadora de postais? Guia turística ou viajante? Dançarina ou caminheira? Amante da ordem ou do caos? Do silêncio ou do ruído?
Sou tudo isto. Sou como os meus sapatinhos versáteis.
E, Joana, ainda vou ser uma mãe normal. Ainda vou ser uma boa cozinheira.

Para Um "Grande" Curioso


Azeitonas - Fez - Marrocos
Fotografia de Artur Matias de Magalhães

Doces Tradicionais - Rabat - Marrocos
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

Pão - Essaouira - Marrocos
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

Para Um "Grande" Curioso

E o que é que comes no deserto? E o que é que comes no deserto?
Como o que me dão. Sempre o que me dão.

E o que é que comes em Marrocos? E o que é que comes em Marrocos? Evidentemente, quando vou a casa de alguém...como o que me dão! E cumpro sempre com as tradições locais, ou seja, como com as mãos.

O quê!?
Bem, pode ser uma tagine de cabrito e amêndoas ou uma tagine de boi e ameixas. Ou uma tagine de legumes. Ou uma tagine de peixe, frango ou marisco. Ou um maravilhoso cuzcuz à moda da Leila. Ou uma "brochette" de carne, acabada de sair do talho ao lado, e grelhada na hora. Ou uma kefta. Ou uma super deliciosa pastilha de pombo. Mas também pode ser de galinha ou de outra coisa qualquer. Ou posso comer um S. Pierre grelhado só com sal e acabadinho de pescar. Ou sardinha assada na brasa tal e qual a nossa. E posso acompanhar com uma salada marroquina, ou uma salada mista. Ou posso comer uma energética piza berbere. Sempre acompanhado de azeitonas indescritíveis e de um pão embebido em azeite caseiro de morrer e chorar por mais. Se ainda tiver espaço posso comer uma sopa. Agora usando uma colher. Uma harira. Ou uma chorba. Para sobremesa pode ser laranja com canela, iogurte caseiro ou uns cornos de gazela que também vão sempre bem. Ou doces do Ramadão encharcados em mel.

Para terminar...um chá de menta. Pois claro.

E não te esqueças...quanto mais abertos à mudança e mais facilmente nos adaptarmos às diferenças, mais felizes somos, e mais gozo acumulamos ao longo das nossas pequenas vidas.
Em Roma sê romano.
E quando for à Líbia vou comer cobra do deserto, grelhada no próprio deserto.
Em Roma sê romano.
E olha que m Marrocos é preciso ser assim!

terça-feira, 13 de março de 2007

Droga I


Noiva Casadoira/Noiva Fumadoira
Fotografia de Eduardo Pinto

Droga I

Venho de um tempo em que o tabaco não era mal visto. Muito pelo contrário. Associava-se o consumo do tabaco a uma certa cultura e instrução. Os anúncios apelando ao seu consumo estavam por todo o lado. Nos cinemas, nas revistas, na televisão. Era o tempo do homem Marlboro. Um homem elegante, aventureiro, distinto, sensual. Fumador, claro!

Fumei o meu primeiro cigarro aos doze anos, com um grupo de rapazes mais velhos, nos quintais do meu avô Rodrigo. A maria rapaz aspirava o seu primeiro fumo. E o que fazer com ele? Deitei-o fora. Que não era assim que se fumava. Que tinha que travar o fumo. Travei. Comecei a ficar tonta e enjoada. Que era normal. Que tinha que insistir que os efeitos colaterais passavam. Passaram. Aos catorze anos comprava regularmente tabaco. SG Gigante. Uma bomba! Um maço por dia! Vinte cigarros por dia. Cento e quarenta cigarros por semana. Quinhentos e sessenta cigarros por mês. Seis mil setecentos e vinte cigarros por ano. Seis mil setecentas e vinte bombas por ano. Assustador. Mas sentia-me bem. E havia que quebrar preconceitos numa Amarante provinciana. Rapaz, sim. Rapariga não.Havia que quebrar preconceitos. Eram os anos setenta.

Casei-me. Fui uma noiva fumadoira. Uma noiva pendurada num cigarro! Mais tarde engravidei. Deixei de fumar. Já estava alertada para os malefícios do tabaco e deixei de fumar. Não queria prejudicar terceiros. Acima de tudo não queria prejudicar a minha filha ainda por nascer. Depois do nascimento da Joana voltei a fumar. Agora, SG Light. Para não me fazer tanto mal. Em breve estava a fumar um maço e meio por dia. Nove mil novecentos e quarenta cigarros por ano. Aterrador.

Fartei-me. Estava com vinte e cinco anos. Fartei-me do cheiro sempre colado à minha pele. Do cansaço ao subir as escadas. Dos ataques de tosse matinais. Decidi deixar de fumar. Deixei de um dia para o outro. Ao longo de todos estes anos nunca fraquejei. Nunca hesitei. E nunca me arrependi.
Em trinta anos muita coisa mudou. A publicidade ao consumo do tabaco foi proibida. Hoje toda a gente está alertada para os perigos do consumo do tabaco. Cancro da boca, de traqueia, de esófago, de estômago, de bexiga. E, claro, cancro de pulmão. O meu avô Rodrigo morreu numa cama de hospital agarrado desesperadamente a uma máscara de oxigénio. Cancro de pulmão para um fumador que desde miúdo fumou cigarros sem filtro. Outra coisa não seria de esperar!

Hoje associo o consumo de tabaco a gente pouco instruída. E pouco respeitadora dos outros. Atiram o fumo para cima de nós. Não apagam os cigarros nos cinzeiros. Atiram com os restos incandescentes para o chão. Na praia atiram cigarros a arder para a areia. Pobres pés incautos.

Hoje associo o consumo do tabaco a gente pouco instruída.
Mas a droga continua a fazer as suas vítimas!

domingo, 11 de março de 2007

Barca


Barca - Carvalho de Rei - Aboboreira
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

Caminhos


Caminhos - Barca - Aboboreira
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

Home


Home - Barca - Aboboreira
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

Home

Home

Ontem abri a "saison" na Barca. Finalmente verdadeiros dias de Primavera. A Aboboreira estava magnífica, o sol morno, a aveia a crescer nos campos... vai haver comida para os passarinhos!

O Artur plantou as aveleiras oferecidas pelo Manel Baptista e eu andei a limpar e a compor os muros da propriedade, de tesoura da poda e de enxada em punho. Carrega pedra para ali, carrega pedra para acolá... o contacto com a terra é sempre um prazer renovado... e uma canseira.
Fico a pensar quem transformou aquela serra em campos, quem fez aqueles muros que eu agora recupero e termino...não sou uma camponesa frustrada... faço exactamente aquilo que quero fazer e quando acabar os meus caminhos e os meus muros vou fazer uma horta.

A vida renova-se.

quinta-feira, 8 de março de 2007

Sahara


Home - Sahara - Líbia
Fotografia de Artur Matias de Magalhães

Sahara

O Sahel telefonou-me de Trípoli. Está lá em trabalho e queria saber se eu estou bem.
Perguntou-me em português correcto "Como estás? Estás bem?"
É a terceira vez que me telefona desde que soube da morte da minha mãe, que ele conheceu aquando da sua estadia aqui. Insistiu comigo para eu ir para a Líbia. Que não preciso de agência de viagens local, que não preciso de guia, que não preciso de hotel, que tenho a casa dos pais dele que é como se fosse minha. Ri-me. Este líbio é o líbio mais educado, cuidadoso e atencioso que conheço. Costumo dizer-lhe que ele anda sempre com as parabólicas ligadas! Lá lhe disse para ele nos aguardar. Talvez para ano.
Deserto escaldante... aqui vou eu.

quarta-feira, 7 de março de 2007


Estátua Jacente de D. Pedro - séc. XIV
Abadia de Santa Maria de Alcobaça
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

"Até à Eternidade"


Estátua Jazente de D. Inês de Castro - séc. XIV
Abadia de Santa Maria de Alcobaça
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

"Até à Eternidade"

No passado mês de Fevereiro, desloquei-me a Alcobaça e à Batalha com a minha querida amiga, colega, e organizadora da viagem, Rosa Maria Fonseca. Confesso que há muitos anos não sentia uma tão grande emoção ao entrar em monumentos nacionais. O ar que se respira dentro destes edifícios é tão diferente e tão especial... em Alcobaça imaginamos os passos dos monges cistercienses deslocando-se suave e silenciosamente, as figuras esguias, austeras e ao mesmo tempo delicadas, fundem-se com o edifício igualmente esguio, austero e delicado, diria mesmo minimalista. Aqui tudo se reduz ao essencial e toda a "tralha" do mundo exterior, do nosso mundo, ficou lá fora.

Caminho pela nave central e chego ao cruzeiro...para a direita? Para a esquerda? Para D. Pedro ou para D. Inês? Indiferente.

Ao acaso opto pelo braço sul do transepto e pelo túmulo do rei D. Pedro que protagonizou a nossa mais bela história de amor "real". Contorno o túmulo, olho em frente para o túmulo de Inês. Tive sorte! Tive muita sorte! A luz banha as estátuas jazentes dos dois amantes, igualmente, e sem distinção. Gostei do momento. Guardei-o.
Lembrei-me de uma peça de teatro que vi, há uns anos, no S. João, em que a protagonista, Maria de Medeiros, fazia o papel de Inês. Sublime. Sublimes as interpretações, sublimes os cenários, sublime o guarda-roupa, sublime a música...tal como são sublimes os túmulos diante dos meus olhos!

Caminho agora pelo transepto, em direcção ao braço norte e ao túmulo da irresistível, da surreal Inês, banhada e aquecida pela luz da tarde. Silêncio. Silêncio. Emoção.
Penso na frase "Até à Eternidade". Não duvido. Todos os amores deviam ser assim!
"Até à Eternidade"

segunda-feira, 5 de março de 2007

Mix Artesanal


Mix Artesanal - Marrocos
Fotografias de Artur Matias de Magalhães

Para o Youssef


Depois da Escuridão a Luz - Marrocos
Fotografia de Artur Matias de Magalhães

Para o Youssef

Guardo imagens que vi, cheiros que senti, sabores que experimentei, momentos que vivi, emoções que partilhei... simplesmente guardo, guardo na minha memória. Sou uma acumuladora de memórias... boas. Principalmente boas.

Marrocos, o país assustador, o país ameaçador, onde teimo em sentir-me bem, ocupa um lugar especial no meu coração desde 1990, data da primeira viagem. Entretanto perdi a conta às vezes que reencontrei este país, tão próximo e tão diferente. Costumo brincar e dizer que o carro sabe o caminho de cor. Vou ali e já venho. E aspiro os cheiros, e absorvo as cores, e observo, e contemplo. E venho renascida.

É que Alá primeiro criou Marrocos e com todo o cuidado colocou tudo: montanhas, desfiladeiros, florestas de cedros, o deserto escaldante, oásis, oueds indomáveis, praias selvagens a perder de vista, a neve, uma população hospitaleira e simpática, cidades tão diferentes como Fez, Marrakech "La Rouge", Essaouira "A Bem Guardada", Chefchauen, a Rota das Mil Kasbahs com as suas povoações bio-degradáveis... e só depois criou o resto do mundo...mas não conseguiu ser tão generoso!

Marrocos é a fotografia que ilustra este post.
Marrocos é assim! Marrocos não se revela de imediato. É preciso ver, e ver, e ainda ver...e mesmo assim nunca se viu tudo!
Marrocos é assim!
 
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