Obrigada, Missão Escola Pública!
Obrigada, Cristina Mota, por dares a cara por tantos de nós!
O meu blogue sou eu...mas eu não sou o meu blogue...
Para ler o artigo na íntegra clique aqui.
Entretanto o meu processo disciplinar prossegue. Com o mediatismo que eu lhe quiser dar, certo? Acho que ainda estamos num país livre... acho...
Entretanto seria bom que quem nunca mexeu uma palhinha, nem nunca concordou com as (minhas) formas de luta do ano passado e até com o meu "mediatismo" que já vem de trás... ah ah ah... deixa-me rir!!!!... na hora de começar a receber o tempo de serviço roubado pela tutela... pelo menos me pedisse desculpa.
E, se fosse em público, confesso, seria o ideal... mas a verdade é que eu já ficava contente com um privadíssimo mea culpa.
É bom que saibam e tenham consciência que o que fazem, o que escrevem, o que testemunham, o que asseguram, o que mexericam tem consequências sobre esta profissional que pratica isto:
"Se não podes com eles, afasta-te deles".
Confesso que, durante décadas, se sonhei ou tive pesadelos nunca me lembrei destes ao acordar de cabeça sempre limpa e sempre criativa como o raio que me parta.
Agora que estou em nova fase de vida, mais velha, e com um ignóbil processo disciplinar às costas, confesso que tenho tido uns pesadelos deveras estranhos.
Aqui vai um:
Começou com um encontro entre mim, a senhora directora do meu agrupamentos e a senhora vice-directora dentro do gabinete da direcção... conversa daqui, conversa dali sobre as obras que o município andava a fazer substituindo as anteriores e malfadadas caixilharias de vidros simples e finíssimos e eis que a senhora directora do agrupamento, ao qual ainda pertenço, mostrava-se indignada com a merda da obra que o município dava por acabada e ela não aceitava. É que, pelos vistos, tinham mudado tudo excepto as coberturas dos jardins das salas de aula, em vidro, por vezes todo escaqueirado... enfim, de facto, uma obra que estava uma valente merda!
- Ora anda cá ver! - Atirou-me ela. ela senhora directora.
E lá fui eu, mais a senhora directora, mais a senhora vice-directora em passeio organizado e temático pela escola fora feita de múltiplos pavilhões acabados de ser intervencionados.
E o que queria a senhora directora de mim?
Pois que eu fotografasse as maleitas deixadas para trás por ordem do município e as denunciasse no meu blogue... que o meu blogue era muito lido pelo pessoal autárquico... ou seja, a senhora directora "encomendava-me" uma postagem contra o município já que ela tinha que se dar de bem com deus e com o diabo, sendo que deus era o ps central e o diabo a coligação local que ainda hoje agrega psd/cds... e eu a zeca que lhe devia obediência e, quiçá, culto!
Foi aqui que acordei em grande agitação sem saber muito bem se isto tinha sido real ou imaginário... se o candeeiro de tecto do meu quarto seria uma nave espacial e se eu corria o risco de ser raptada para um planeta distante por não ter mesmo lugar neste...
Ai cum catano!
Não me posso queixar de todo o apoio recebido, vindo de longe, ao longo deste angustiante processo disciplinar kafkiano de que tenho sido vítima.
As missivas de teor semelhante a este que hoje me entrou no chat do facebook e que aproveito para divulgar com a respectiva autorização, vão muito no sentido de eu ser uma inspiração na luta dos professores, de eu ser uma inspiração para a luta dos professores ao longo destas já decadas de dar o corpo ao manifesto por um amanhã melhor. Afinal, não é por acaso que eu estudei na Escola Pública, que a minha filha estudou na Escola Pública e que os meus netos estudam na Escola Pública... não sabendo eu até quando face à deterioração das condições que vejo e observo a agravarem-se a cada dia que passa.
As missivas chegam-me de Norte a Sul do país, passando também pelo centro, vindas de gente que conheço pessoalmente e mesmo de gente que desconheço por completo.
Do interior da ainda minha escola o que mais recebo é um silêncio constrangedor e confrangedor, salvo raras excepções por quem eu sinto um enorme apreço e amizade nesta hora de difícil processamento da minha situação de condenada que nunca baixará os braços, nunca imobilizará as pernas e nunca calará a sua voz, falada e muito menos escrita.
Estarei sempre grata do coração por este apoio que rebenta completamente com um possível sentimento de desamparo e de solidão a que pudesse sucumbir.
Estou aqui. Ainda estou aqui. Apesar de tudo.
"Cara Anabela,
peço desculpa pela ousadia, mas não posso deixar de lhe dirigir algumas palavras de conforto.
Não desista!
Também não estou a atravessar uma boa fase na minha escola, mas não podemos baixar os braços. Se nos tentam calar é porque fazemos alguma diferença.
Tenho muita admiração por si, e acredito que muitos colegas sintam o mesmo.
Da minha parte, é a Anabela que me faz continuar a falar, a enfrentar e não desistir das minhas convicções e valores.
É uma inspiração nesta luta, por vezes desigual.
Não está sozinha.
Força, colega!"
Agradecendo desde já todo o apoio, carinho e consideração por mim demonstrados, informo que é para mim uma honra ver o meu nome no meio deste lote onde, sinceramente, penso que não deveria estar. Informo ainda que estou out, por agora, da luta dos professores... que não acabou e que continuará, por certo, sem esta zeca que não lhe fará falta alguma.
Mas a luta continua, sim?
Às voltas com uma monumental sinusite que me trouxe a injectáveis diários de um antibiótico super potente, depois do uso de um outro antibiótico e de cortisona q.b. que me encheram o papinho, eis que aproveito agora os dias, entre tardes deitada no sofá, de forma lenta e deveras consciente, para arrumar muito do entulho que povoava o meu telemóvel.
Comecei por mandar para o galheiro montanhas de contactos telefónicos relacionados com a minha vida profissional e que eram de gente entulho que me conspurcava o telelé, as mãos e a mente de cada vez que tinha de percorrer a lista telefónica para aceder a algum contacto de facto pertinente, de gente que esteve sempre presente na minha vida e que, mal soube que a coisa estava mal parada com o processo disciplinar de que fui e continuo a ser alvo, se manteve firma e hirta como barra de ferro... ao meu lado, mesmo que seja para me apontarem erros, segundo as suas cabeças porque a cada cabeça sua sentença, certo?
Confesso que algum, pouco, do entulho que agora enviei para o lixo me custou especialmente... inocentemente, confesso, houve gente que me enganou até ao último momento.
Agora, desejo a todo este entulho, que seja feliz... que seja muito feliz, mas muito longe de mim!
Sim?
Ora ponham a música no máximo e cantem comigo um novo e pior tempo que aqui chegou.
... ou troca tintas... ou o mais que for possível chamar a esta estirpe de "pessoas" que é capaz de renegar a sua própria sombra.
Não confiáveis, bom será que as pessoas minimamente escaldadas por esta estirpe de gente só comuniquem com eles à distância ou, melhor ainda, na presença de um advogado.
Se se apanham em cargos onde podem exercer algum poder, incham tanto tanto que mais parecem balões voadores... e que bom seria se voassem para bem longe daqui, subindo cada vez mais alto, mais alto e ainda mais alto, quiçá rebentando em pleno espaço sideral de tanto inchaço.
Escondem, por vezes, uma incompetência confrangedora a coberto do/no desmando da boiada que lhes respalda as fraquezas e inseguranças, contribuindo, assim, para o estado a que isto chegou.
Se é triste?
É! Por amor da santa... se é!!!!
E eu, qual mulher das neves, abomino estes cata-ventos troca tintas capazes de negar o que acabaram de afirmar, capazes de afirmar o contrário do que acabaram de afirmar, capazes de negar até as suas próprias sombras.
Fazem um trabalho notável a dissecar as baboseiras que muitos "especialistas" em matéria de educação arrotam por aí.
Aqui vos deixo mais um vídeo, com os meus agradecimentos a todos quantos ainda não desistiram de lutar por uma Escola Pública escrita com maiúsculas.
Informo todos os meus alunos que esta específica sala, outrora a menina dos nossos olhos, tão bem cuidada por tantos de nós que deram o corpo ao manifesto para a converterem num espaço acolhedor e útil do ponto de vista físico e pedagógico, vai agora ser definitivamente desmantelada.
A gota de água que fez transbordar o meu copo, agora em definitivo, foi mais um ano consecutivo de aulas espalhadas por todas as indiferentes salas dos muitos pavilhões que percorro de novo este ano lectivo e que nada acrescentam à minha actividade pedagógica e que prejudicam até o meu trabalho em sala de aula já que me criam areias na minha engrenagem de Professora de História, prejudicando, consequentemente, também, as aprendizagens dos meus alunos, especialmente os do sétimo ano de escolaridade, pela destruição da magia do momento em que a chave dos dois armários rodava e abria aquelas portas de onde saíam peças tão importantes que lhes deixavam os olhos incrivelmente brilhantes e arregalados, prenhes de curiosidade.
A gota de água foi também verificar que as maquetas, que deram tanto mas tanto trabalho a tantos alunos que me passaram pelas mãos ao longo dos anos, estão já em acentuado estado de degradação que eu não posso admitir. Antigamente aquela era a "minha" sala, a que eu vigiava, cuidava, acarinhava... a que servia para colocar em prática uma disciplina que à época não existia - Cidadania de seu nome - e que agora não passa de uma sala mono, sem dono, terra de ninguém, que nada acrescenta a quem devia acrescentar, num esbanjamento de recursos que me dói até à medula.
Decididamente não tenho o espírito daquela matriz idealizada e negativa da "funcionária pública" que gosta de deixar andar e faz bastante por isso.
Assim, alunos e alunas que por lá mantêm as maquetas e materiais diversos realizados em vossas casas - usando os vossos materiais, correspondendo por inteiro aos desafios desta professora que um dia sonhou uma escola diferente e começou pela "sua" sala de aula - podem combinar comigo para que vos possa restituir os trabalhos antes que estes fiquem completamente espatifados.
Eu própria vou trazer para minha casa todos os materias que são meus e que, um dia, feita parva, ponderei deixar de oferta a esta escola a que já chamei Home mas que não o é mais, muito pelo contrário, apesar dos meus amores que reencontro sempre que abro as portas das salas de aula.
Recheada com materiais diversos e pertinentes para o ensino da História, muitos da minha propriedade e por mim adquiridos propositadamente ao longo de tantos anos, outros que me foram oferecidos por colegas de outras escolas próximas e até de escolas muito distantes, e outros realizados pelos alunos, tantas e belas maquetas só para relembrar um exemplo, a Sala de História tem agora como destino o seu desmantelamento, progressivo mas decidido e inabalável.
Relembro - entrem em contacto comigo caso queiram reaver os vossos materiais. Caso pretendam deixá-los onde agora se encontram saibam que a responsabilidade da sua degradação ou mesmo da sua destruição não será minha.
Três em cada quatro professores dizem que já foram vítimas de assédio moral
O estudo data de 2003 e apresenta dados deveras preocupantes que pode consultar aqui.
Hoje seria pior.
Coloquem o som no máximo. Cantem. Dancem. Interiorizem. E é isto. Hoje dou a palavra ao Sérgio Godinho que é também a minha.
"Não sei se estão a ver aqueles dias
Em que não acontece nada sem ser o que aconteceu e o que não aconteceu
E do nada há uma luz que se acende
Não se sabe se vem de fora ou se vem de dentro
Apareceu
E dentro da porção da tua vida, é a ti
Que cabe o não trocar nenhum futuro pelo presente
O fazer face a face que se teve até ali
Ausente, presente
Vê lá o que fazes, há tanto a fazer
Fazes que fazes ou pões sementes a crescer?
Precisas de água
Terra também
Ventos cruzados e o sol e a chuva que os detém
Vivida a planta
Refeita a casa
É o espaço em branco
Tempo de o escrever e abrir asa
E a linha funda, na palma da mão
Desenha o tempo então
Desenha o tempo então
Mas há linhas de água que cruzas sem sequer notares
E oh, estás no deserto
E talvez no oásis, se o olhares
E não há mal, e não há bem
Que não te venha incomodar
Vale esse valor?
É para vender ou comprar?
Mas hoje questões éticas?
Agora?
Por favor
Que te iam prescrever
A tal receita para a dor
Vais ter que reciclar
O muito frio e o muito quente
Ausente
Presente
Vê lá o que fazes, há tanto a fazer
Fazes que fazes
Ou pões sementes a crescer?
E a linha funda, na palma da mão
Desenha o tempo então
Desenha o tempo então
Um curto espaço de tempo
Vais preenchê-lo
Com o frio da morte morrida
Ou o calor da vida vivida?
Não queiras ser nem um exemplo
Nem um mau exemplo
Por si só
Há dias em que é grão da mesma mó
E a senha já tirada
Já tardia do doente
Dez lugares atrás
E pouco a pouco à frente
E cada um falar-te das histórias da sua vida
Feliz, dorida
Vê lá o que fazes
Há tanto a fazer
Fazes que fazes
Ou pões sementes a crescer?
Precisas de água
Terra também
Ventos cruzados
E o sol e a chuva que os detém
Vivida a planta
Refeita a casa
E espaço em branco
Tempo de o escrever e abrir asa
E a linha funda, na palma da mão
Desenha o tempo então
Desenha o tempo então
E explicaram-te em botânica
Uma espécie que não muda a flor do fatalismo
Está feito
E se até dá jeito alterar
Só por hoje o amanhã
Melhor é transfigurar o amanhã com todo o hoje
E as palavras tornam-se esparsas
Assumes
Fazes que disfarças
Escolhes paixões
Ciúmes
Tragédias e farsas
E faças o que faças
Por vales e cumes
Encontras-te a sós, só
Grão a grão
Acompanhado e só
Grão da mesma mó
Grão da mesma mó
Grão da mesma mó
Grão da mesma mó"
E sim, isto mina o trabalho nas escolas. Todos os dias, sem parar.
Por isso, quando chegarem as comemorações do cinquentenário do 25 de Abril, estou inclinada a ir para a minha escolinha agarrada ao meu Salgueiro Maia e a gritar por socorro!
"(...) Uma questão em que quase ninguém toca, no plano político, é o da morte matada da Democracia nas Escolas, nas quais se quer que se transmitam aos alunos “valores e competências que lhes permitem intervir na vida e na história dos indivíduos e das sociedades, tomar decisões livres e fundamentadas sobre questões naturais, sociais e éticas, e dispor de uma capacidade de participação cívica, ativa, consciente e responsável” (Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória. Lisboa, ME/DGE, 2017, p. 10), mas onde a sua prática foi esmagada em nome de um modelo de gestão escolar único, fechado sobre si, rígido, hierárquico e que nega todos os princípios e ideais de trabalho colaborativo.
Flexibilizar do modelo, abrindo-o a alternativas, como soluções colegiais de gestão ou a eleição livre das lideranças intermédias pelos pares seria um bom início. “Alguns ambientes de trabalho encaram a liderança apenas em termos de autoridade posicional – a organização é liderada por chefias de alto nível e, quanto mais se desce na hierarquia, menos as pessoas são consideradas líderes. Essas organizações estão a desperdiçar 90% do seu poder intelectual. A liderança saudável tem menos a ver com pessoas sentadas no topo a tomar decisões isoladas e mais a ver com indivíduos em todos os níveis da organização ajudando-se a alcançar o sucesso”. (P. Gamwelle J. Daly, Teachers Are Fleeing: 5 Ways to Boost Retention, 19 de Abril de 2022) (...)"
Para ter acesso ao artigo por inteiro, clique aqui.
A notícia de hoje, vinda de um tribunal português, não me espanta, e confesso que era a notícia por mim esperada e que está em conformidade ou em linha com as outras deliberações anteriores.
O que me continua a espantar é o medo instalado, o cheiro a medo que todos os dias aspiro e me causa repugnância e náuseas.
E volto a afirmar, alto e bom som, quem tem medo não devia ser professor/educador pois está a prestar um péssimo exemplo aos seus alunos e às suas comunidades. E está a contribuir para hipotecar o futuro deste país.
Depois espantam-se do estado a que isto chegou.
Volta, Salgueiro Maia! Volta por favor!
"O tribunal considerou ilegais os serviços mínimos decretados para as greves às avaliações finais dos alunos do 9.º, 11.º e 12.º anos, realizadas no passado ano letivo, revelou hoje a plataforma de sindicatos que convocou a paralisação.
“Foi agora divulgado novo Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa (TRL) que declara ilegais os serviços mínimos impostos à greve às avaliações sumativas finais dos anos com provas finais ou exames”, ou seja, do 9.º, 11.º e 12.º anos, avança em comunicado a plataforma de nove estruturas sindicais, da qual fazem parte a Fenprof e a Federação Nacional de Educação (FNE)."
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Não estando presente fisicamente, a verdade é que estive de alma e coração em Lisboa misturada entre os professores que não desistem de lutar pelo futuro deste país que já está posto em causa.
A virar frangos desde que me conheço.
A palavra a Pessoa.
A Luta Continua
E continuará, até que as justas reivindicações dos professores sejam atendidas.
Chega de degradação da Escola Pública.
Associações de Pais não têm nada a dizer? A sério?
Professores aderem à greve da Função Pública e não pedem só recuperação do tempo de serviço